O ataque de Israel contra o consulado iraniano em Damasco, há 15 dias, e que gerou a resposta do Irã neste fim de semana foi a estratégia encontrada por Benjamin Netanyahu para tentar atrair de volta para a guerra o governo americano de Joe Biden.
Jamil Chade | UOL
A análise circula entre a cúpula do governo brasileiro, que acredita que não existia interesse nem de americanos e nem de iranianos para que um confronto fosse estabelecido.
Joe Biden e Benjamin Netanyahu, em visita do presidente americano a Israel em outubro do ano passado | Imagem: Evelyn Hockstein - 18.out.23/Reuters |
Nas últimas semanas, de olho em sua própria eleição, Joe Biden endureceu o discurso com Israel diante da ofensiva sobre Gaza. Além de alertas públicos, o governo americano não vetou uma resolução no Conselho de Segurança pedindo um cessar-fogo. O gesto foi considerado como um divisor de águas e um sinal claro da distância que existia entre os líderes dos dois países.
Nas horas seguintes ao voto, Netanyahu cancelou o envio de uma delegação oficial de seu governo para conversas na Casa Branca.
Ainda que as armas americanas continuassem a fluir para os israelenses, a mudança de tom por parte de Biden criou uma tensão extra sobre Netahyanu, já duramente pressionado domesticamente e cada vez mais isolado no cenário internacional.
A avaliação interna no governo, portanto, é a de que os israelenses sabiam que precisavam "reconvocar" os americanos para um engajamento na proteção de Israel e, acima de tudo, não deixar Netanyahu sozinho neste momento.
Para isso, precisavam de um novo fato e um envolvimento que deslocasse a lógica da guerra. O alvo, portanto, era o Irã, visto pelos EUA de fato como uma ameaça.
Ao atacar o consulado, os israelenses sabiam que haveria uma resposta por parte de Teerã e que, se isso ocorresse, os EUA teriam de voltar a se comprometer com a segurança de Israel.
Se Biden foi em rede nacional para deixar claro o apoio americano ao seu aliado e se os militares dos EUA ajudaram a interceptar os mísseis iranianos, os bastidores marcaram uma forte pressão por parte da Casa Branca para que Netanyahu não respondesse aos mísseis.
O recado foi claro ao líder israelense: os EUA não irão se envolver numa ofensiva contra o Irã.
Na reunião de emergência do Conselho de Segurança, no domingo, a profunda desavença entre as potências foi evidente. Mas, nos discursos, também ficou claro que nem americanos e nem iranianos querem um confronto.
Robert Wood, embaixador dos EUA, afirmou que os americanos "não buscam um conflito" e que a última coisa que a região precisa era de uma nova guerra. A delegação iraniana respondeu no mesmo tom, indicando que se mostrou "moderada" ao aceitar o papel dos militares americanos para interceptar seus mísseis, sem que isso tenha significado que uma nova guerra estaria sendo iniciada entre Teerã e Washington.