"O exército israelense matou pessoas deliberadamente logo após elas terem entregue ajuda humanitária. Pedimos um ato internacional não apenas de denúncia e condenação, mas também de medidas severas a serem tomadas contra os militares israelenses. E expressamos solidariedade à organização e a todos os colegas", diz Silvia Stilli, presidente da Aoi, a associação que reúne as ONGs italianas. "Não é possível aceitar uma guerra sem mais regras, onde tudo é permitido", afirma ela
Vatican News
"É um ataque inaceitável à solidariedade e às organizações humanitárias": é assim que Silvia Stilli, presidente da Aoi, a associação que reúne as ONGs italianas, comenta à agência Sir o assassinato em Gaza, na segunda-feira, 1º de abril, de sete agentes humanitários que trabalhavam para a ONG estadunidense World central kitchen (Wck), do chef espanhol José Andres. Os sete, de nacionalidade australiana, polonesa, britânica, com dupla cidadania dos EUA e Canadá e palestina, foram mortos em um ataque aéreo do exército israelense após entregarem ajuda alimentar à população que está morrendo de fome.
Reuters |
O primeiro-ministro israelense Benyamin Netanyahu admitiu: "Esse foi um caso trágico em que nossas forças atingiram não intencionalmente pessoas inocentes na Faixa de Gaza". "Não se pode mais falar de erros. São erros atingir pessoas que estavam indo buscar comida? Ou matar sete agentes humanitários?", pergunta Stilli. A presidente das ONGs italianas viu as imagens dramáticas do ataque que foram compartilhadas com ela por outros agentes humanitários: "Não caiu uma bomba ou algo aconteceu de improviso. Eram jovens agentes, veem-se os capacetes caídos, eles foram alvejados sob seus coletes na altura da barriga".
"É inacreditável, inacreditável, o que aconteceu", repete ela, transtornada: "O exército israelense matou pessoas deliberadamente logo após elas terem entregue ajuda humanitária. Pedimos um ato internacional não apenas de denúncia e condenação, mas também de medidas severas a serem tomadas contra os militares israelenses. E expressamos solidariedade à organização e a todos os colegas".
Inadmissível tomar como alvo agentes humanitários
Como é de praxe para aqueles que trabalham em zonas de conflito, os agentes humanitários fizeram acordos com o exército israelense para comunicar seus movimentos. "É uma prática que acontece em todos os lugares", explica Stilli.
"Mesmo quando enviamos dois contêineres que entraram por Rafah, com ajuda e arrecadação de fundos da Aoi por meio do Crescente Vermelho egípcio e palestino. Todos comunicam também aos israelenses que estão levando ajudas".
"A Corte internacional deixou claro que deve ser permitida a entrada das ajudas humanitárias para serem distribuídas à população. Como se não bastassem os bloqueios, agora são até mesmo alvejados aqueles que trazem a ajuda, isso é muito sério. E inclusive porque ninguém está fazendo isso às escondidas, tudo é feito às claras".
Desrespeito total ao direito internacional e humanitário
A presidente da associação que reúne as ONGs italianas reitera o apelo para "desbloquear as ajudas", também porque "está prestes a acontecer de tudo em Rafah. Em pouco tempo, além da fome, as pessoas morrerão de tifo, não haverá mais água. Em Rafah, a população civil não está protegida. Basta".
"Todas as regras do direito internacional e do direito humanitário caíram", admite ela, "e sinceramente não entendemos o que está acontecendo com os governos mundiais. Eles expressam suas condolências e pesar, mas isso não é suficiente: eles devem tomar medidas imediatamente porque não é possível aceitar uma guerra sem mais regras, onde tudo é permitido".
"Há semanas estamos esperando a escalada final, com quase 2 milhões de pessoas em Rafah em uma condição de morte anunciada", diz ela. "É isso que tememos, juntamente com a total insegurança para aqueles que distribuem ajuda. Os programas que temos em vigor estão sendo interrompidos em nome de quê? Estamos entre o desesperado e o horrorizado. E não entendemos o que está acontecendo. Qual será o futuro dos agentes humanitários, quais serão as salvaguardas? É um ponto de interrogação realmente dramático".