A possibilidade de um êxodo dos habitantes de Gaza através da fronteira ao Egito, por meio da cidade de Rafah, diante dos persistentes ataques de Israel, tornaria a questão palestina praticamente insolúvel, ao impor um “dilema atroz” às pessoas em fuga, declarou nesta sexta-feira (12) Filippo Grandi, alto-comissário das Nações Unidas para os Refugiados. As informações são da agência de notícias Reuters.
Monitor do Oriente Médio
Segundo Grandi, “devemos fazer todo o possível fervorosamente” para evitar o êxodo.
Filippo Grandi, alto-comissário das Nações Unidas para os Refugiados, em 10 de novembro de 2021 [John Thys/AFP via Getty Images] |
“Outra crise de refugiados de Gaza rumo ao Egito, devo lhes assegurar … tornaria impossível a resolução da questão dos refugiados palestinos, como consequência do conflito israelo-palestino”, comentou Grandi na sede de sua agência em Genebra.
Planos israelenses para invadir Rafah, cidade fronteiriça que abriga 1.5 milhão de palestinos deslocados pela guerra, causam apreensão e condenação internacional.
Mesmo os Estados Unidos — aliado íntimo de Israel — alertaram o premiê Benjamin Netanyahu do risco de isolamento global caso execute os planos.
Para Grandi, uma operação por terra na cidade de Rafah tornaria o fluxo de palestinos ao território egípcio “a única alternativa viável para sua segurança”.
“Este dilema é inaceitável e a responsabilidade para evitá-lo repousa unicamente em Israel, como potência ocupante de Gaza”, advertiu Grandi.
O exército israelense alega que quatro batalhões do movimento Hamas estão em Rafah, além de comandantes não-identificados do grupo. Contudo, recusa-se a apresentar provas ou detalhes, como parte do modus operandi de sua violenta varredura norte-sul.
Grandi reiterou, no entanto, que o Alto-comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) armazena tendas e suprimentos e trabalha com países regionais para elaborar planos de contingência caso se materialize o êxodo de Gaza.
“Acompanhamos a conjuntura regional e as possibilidades não somente da emigração em massa, mas também da expansão do conflito”, observou Grandi. “Contudo, repito: não devemos chegar a esse dilema atroz — que seria praticamente o fim do caminho ao que realmente importa: a paz e a justiça”.
Israel mantém ataques indiscriminados a Gaza desde 7 de outubro, em retaliação a uma operação transfronteiriça do braço armado do grupo Hamas, que capturou colonos e soldados. Segundo o exército israelense, cerca de 1.200 pessoas morreram na ocasião.
Entretanto, reportagens do jornal Haaretz mostraram que uma parcela considerável das fatalidades se deu por “fogo amigo”, sob ordens gravadas de chefes militares de Israel para que suas tropas atirassem em reféns e residências civis
Em Gaza, são 33.634 mortos e 76.214 feridos, além de dois milhões de desabrigados.
Expulsar os palestinos de Gaza seria crime de transferência compulsória.
Apesar de uma ordem do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), sediado em Haia, de 26 de janeiro, Israel ainda impõe um cerco militar absoluto a Gaza — sem comida, água, medicamentos, energia elétrica ou combustível.
As ações israelenses são punição coletiva, crime de guerra e genocídio.