Os Estados Unidos voltaram a defender seu envio de armamentos a Israel, ao reforçar seu compromisso à “segurança” do país aliado, apesar das crescentes violações do direito internacional perpetradas pelas tropas ocupantes na Faixa de Gaza.
Monitor do Oriente Médio
Matthew Miller, porta-voz do Departamento de Estado, foi questionado nesta segunda-feira (1°) se as recentes remessas — incluindo jatos combatentes e bombas de 900 kg — podem prejudicar a “credibilidade” e “sinceridade” da Casa Branca em suas alegações de preocupação sobre a dimensão da crise humanitária no enclave palestino.
Matthew Miller, porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, durante coletiva em Washington DC, em 25 de março de 2024 [Mostafa Bassim/Agência Anadolu] |
“Não concordo com isso”, disse Miller. “Deixamos muito claro que queremos ver Israel fazer tudo que pode para minimizar as baixas civis. Deixamos claro que eles precisam operar, a todo instante, com pleno respeito à lei humanitária internacional. Ao mesmo tempo, entretanto, estamos comprometidos com o direito à autodefesa de Israel [sic] e este é um compromisso de longa data dos Estados Unidos”.
Segundo o direito internacional, no entanto, Israel, como potência ocupante, não pode se “defender” da população ocupada, que, em contrapartida, tem direito reconhecido à resistência — inclusive à resistência armada.
O governo de Joe Biden enfrenta duras críticas por sua cumplicidade com o genocídio israelense, incluindo promessas de abstenção em massa de eleitores progressistas no pleito presidencial de novembro, no qual o mandatário volta a enfrentar Donald Trump.
Críticos apontam ainda que a postura da Casa Branca sob a gestão democrata viola as próprias leis domésticas dos Estados Unidos, que proíbem colaboração militar e venda de armas a Estados engajados em violações de direitos.
Na semana passada, o jornal The Washington Post confirmou que o governo americano aprovou a transferência de bilhões de dólares a Israel, incluindo milhares de bombas.
Miller insistiu nesta segunda que as armas foram “pré-aprovadas” e que o Congresso foi notificado sobre as remessas.
Diferente da ajuda à Ucrânia, o Pentágono e o Departamento de Estado não anunciaram publicamente, tampouco detalharam o crédito deferido a Israel.
Israel é réu por genocídio no Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), sediado em Haia, que acatou as denúncias da África do Sul em 26 de janeiro, ao ordenar o Estado ocupante a permitir a entrada de assistência humanitária a Gaza — no entanto, sem aval. O processo deve durar anos.
Durante os quase seis meses de ofensiva a Gaza, o exército israelense empregou bombardeios indiscriminados, ataques a infraestrutura civil, detenção arbitrárias, tortura, execuções extrajudiciais, uso de armas química e de mutilação em massa, entre outras.
Na semana passada, porém, o Departamento de Estado americano insistiu não considerar que Israel aja em violação do direito internacional.
Miller admitiu que as remessas não se referem apenas à guerra em Gaza, mas também a outros adversários regionais, como Irã e o movimento libanês Hezbollah — com quem o regime colonial troca disparos na fronteira. Há receios de propagação da guerra.
Oficiais americanos, incluindo Biden, criticaram publicamente as táticas de Israel em Gaza; contudo, sem ações ou sanções concretas. Deputados e senadores progressistas reivindicam de Biden que condicione seu pacote militar ao regime israelense.
No domingo (31), o senador democrata Jeff Merkley invocou o feriado de Páscoa para criticar a campanha israelense.
“Devemos reconhecer que os Estados Unidos são cúmplices nesta tragédia ao reabastecer Israel com bombas, e em deixar de aplicar nossa influência para que se estabeleça um maior fluxo assistencial a Gaza”, escreveu Merkley nas redes sociais.
“Ao refletir na admoestação para alimentar os famintos e auxiliar o próximo, e ‘abençoados sejam os homens de paz’, que pressionemos o governo de Joe Biden a agir melhor — mais ajuda e não mais bombas”, acrescentou.
Israel mantém ataques indiscriminados a Gaza desde 7 de outubro, em retaliação a uma operação transfronteiriça do braço armado do grupo Hamas, que capturou colonos e soldados. Segundo o exército israelense, cerca de 1.200 pessoas morreram na ocasião.
Entretanto, reportagens do jornal Haaretz mostraram que uma parcela considerável das fatalidades se deu por “fogo amigo”, sob ordens gravadas de chefes militares de Israel para que suas tropas atirassem em reféns e residências civis.
Em Gaza, são 32.845 mortos e 75.392 feridos, além de dois milhões de desabrigados.
Organizações internacionais, incluindo agências das Nações Unidas e o Conselho de Segurança, pedem um cessar-fogo imediato em Gaza, incluindo acesso humanitário. Todavia, sem a anuência de Israel. Segundo a Agência das Nações Unidas para a Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA), a fome “está por toda a parte”.
Apesar de uma ordem do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), sediado em Haia, de 26 de janeiro, Israel ainda impõe um cerco militar absoluto a Gaza — sem comida, água, medicamentos, energia elétrica ou combustível.
As ações israelenses são punição coletiva, crime de guerra e genocídio.