Em fala à Sputnik Brasil, o secretário-executivo do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luis Manuel Rebelo Fernandes, destacou como nações ao redor do mundo, em especial os Estados Unidos, têm impedido o Brasil de se desenvolver tecnologicamente.
Guilherme Correia e Fabian Falconi | Sputnik
Em discurso durante a LAAD Security & Defence 2024, maior feira de segurança e defesa da América Latina, Fernandes afirmou que o Brasil "quer manter uma relação plural com o mundo", mas também é, infelizmente, "vítima de bloqueio de tecnologia ou de cerceamento de tecnologia."
No discurso, realizado na cerimônia de abertura da feira, nesta terça-feira (2), o secretário-executivo também destacou como o binômio segurança-defesa pode ampliar a capacidade científica do Brasil.
Com representantes do governo federal, o evento tem 50 delegações de 35 países e mais de 650 expositores, como Embraer, Imbel, Amazul, Condor, CBC, Taurus, Leonardo, EDGE, FORD, MKU, MacJee e Flash.
EUA são caso mais emblemático
Em entrevista exclusiva à Sputnik Brasil, Fernandes detalhou sua fala. "Há múltiplas práticas de cerceamento tecnológico no mundo" e "há estudos que têm identificado a origem dessas ações de cerceamento".
"Predominam, nas ações de cerceamento dirigidas ao Brasil, ações restritivas vindas dos Estados Unidos."
Assim é o caso, afirma Fernandes, pois os EUA são um parceiro econômico de longa data, o que lhes dá mais oportunidades para limitar o desenvolvimento tecnológico brasileiro, e também porque, com o passar do tempo, "têm intensificado mecanismos de intervenção em relações econômicas e comerciais por conta de interesses geopolíticos".
"Talvez o caso mais exemplar seja o programa de enriquecimento do urânio, o nosso programa nuclear, que por pressão dos Estados Unidos foi bloqueada uma transferência de tecnologia da Alemanha."
Com o conflito na Ucrânia, afirma o secretário, ficou evidente a escalada dessas ações por parte dos EUA, como a exclusão da Rússia do SWIFT, sistema de pagamentos internacional. "São múltiplas ações de restrição que têm nos atingido em várias áreas de desenvolvimento de tecnologias, tanto para a defesa quanto para a segurança."
Ainda assim, afirma Fernandes, o Brasil tem interesse em "manter relações amplas e diversas com todos" e não quer ter "um alinhamento automático com nenhum polo dos que estão em formação no mundo". "Mas também isso não isenta o país de ser alvo desse tipo de ação restritiva."
Para combater essas ações, o governo federal está desenvolvendo um "conjunto de programas para investir em capacidade científica e tecnológica nacional […]".
Em um primeiro momento, Fernandes já anunciou um programa de financiamento de R$ 500 milhões, com recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), para autonomia tecnológica na área de defesa.