Saída das forças da SADC do terreno torna o Ruanda o único aliado de Moçambique no combate ao terrorismo. Possível reforço desta ajuda é criticado pela oposição, que diz não ter sido ouvida, e questionado por analista.
Nádia Issufo | Deutsch Welle
Numa altura em que se retiram paulatinamente os militares da missão da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) do norte de Moçambique, por incapacidade financeira, o Governo moçambicano assegura que vai vencer o terrorismo internacional, também com o apoio externo.
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O Ruanda torna-se o único aliado de Moçambique no palco de guerra, para atingir este objetivo. Porém, como alerta, em entrevista à DW, Jasmine Opperman, especialista em contraterrorismo, Kigali também tem limitações.
"O Ruanda só pode fornecer um determinado número de soldados. Eles estão envolvidos na RDC, estão envolvidos em operações de manutenção da paz em toda a África. É um país pequeno, não há muito mais que o Ruanda possa dar em termos de apoio", diz.
Além disso, acrescenta a mesma especialista, "o Ruanda não confia nas forças de segurança moçambicanas, devido às suas fraquezas. Então, estarão as rorças de segurança moçambicanas em posição de contra-atacar agora? O Ruanda está em posição? Definitivamente, eles têm mais experiência", nota.
Os militares ruandeses estão em Cabo Delgado desde 2021 graças ao apoio da União Europeia, orçado em 20 milhões de euros, uma decisão que não foi debatida no Parlamento moçambicano.
Face ao enfraquecimento do combate à insurgência, com a saída das forças da SAMIM, e ao aumento do terrorismo, Moçambique terá solicitado um reforço a Kigali - fala-se em mais de 2.000 soldados – e, pela segunda vez, o tema não terá passado pelo Parlamento, o que tem gerado críticas da oposição.
Oposição não foi ouvida, diz RENAMO
À DW, José Manteigas, porta-voz da RENAMO, o maior partido da oposição em Moçambique, garante que "o recrutamento de forças externas para combater o terrorismo é um assunto que não foi discutido na Assembleia da República”.
"Em situações como estas, o Parlamento deveria ser consultado sobre o recrutamento dessas forças externas. O presidente da RENAMO contestou esta atitude de marginalizar a Assembleia da República”, afirma.
Em paralelo aos contínuos apelos por um apoio internacional, o Presidente de Moçambique tem defendido a responsabilidade localno combate ao terrorismo. Mas volvidos quase sete anos de violência, Nyusi ainda enumera fases primárias de combate, como capacitação, construção de resistência e estabilização.
Para além das dúvidas acerca das condições do Exército moçambicano, também a eficácia e abrangência das forças ruandesas têm sido alvos de críticas.
"Sim, é fácil argumentar que eles [forças ruandesas] tiveram grandes sucessos. Mas comparado com o quê? Comparado com as Forças de Segurança Moçambicanas? Isso é medir por baixo”, considera Opperman.
Interesses da Total Energies?
Para além da eficácia destas tropas, nota a especialista em contraterrorismo, há outras relativas à atuação seletiva destas forças, que devem ser colocadas.
"A relutância do Ruanda em envolver-se em ataques ofensivos estruturados para além de Mocímboa da Praia é indicativo de uma força que está a ser restringida e confinada por outros interesses, como político, ou interesses da Total Energies, que dirige as operações. Nyusi reuniu-se recentemente com Kagame, claramente à procura desesperadamente de apoio para quando a SAMIM sair. Onde é que o Ruanda vai conseguir essas forças? Eu adoraria ver. Talvez 500, talvez mais 700. Não conseguem cobrir Cabo Delgado inteiro".
A confirmar-se o envio de Kigali, há outro senão: Maputo não está em condições de pagar os custos associados a este envio.