Membro do gabinete político defendeu país com capital em Jerusalém e afirmou que braço armado poderia ser integrado a Exército nacional
Abbas Al Lawati | CNN
Algumas autoridades do Hamas sinalizam que o grupo pode desistir da luta armada contra Israel se os palestinos conseguirem um Estado independente nos territórios capturados por Israel na guerra de 1967.
Abu Ubaida, porta-voz do braço armado do Hamas 11/11/2019REUTERS/Ibraheem Abu Mustafa |
A mensagem sugere um abrandamento da posição do Hamas, uma vez que seu destino está em xeque com a ofensiva israelense contra a Faixa de Gaza, território governado pelo grupo armado antes da guerra. Eles lutam há muito tempo pela destruição do Estado judeu.
Basem Naim, membro do gabinete político do Hamas baseado em Istambul, disse à CNN nesta quinta-feira (25) que o grupo concordaria em se desarmar se um Estado palestino independente fosse estabelecido.
“Se um Estado independente com capital em Jerusalém, preservando o direito de regresso dos refugiados, [for criado], o Al Qassam [braço armado do Hamas] poderá ser integrado num [futuro] Exército nacional”, destacou.
Israel capturou a Cisjordânia, Jerusalém Oriental e Gaza na guerra de 1967. Esses territórios são considerados ocupados pelo direito internacional e pela maior parte da comunidade internacional, e é onde os palestinos pretendem estabelecer um futuro Estado.
O Hamas tem rejeitado a solução de dois Estados, que estabeleceria um Estado palestino ao lado de Israel. Em vez disso, defendeu a criação de um país em toda a Palestina histórica, que hoje abrange Israel, a Cisjordânia ocupada, Jerusalém Oriental ocupada e a Faixa de Gaza.
Mustafa Barghouti, presidente da Iniciativa Nacional Palestina, pontuou que não tinha conhecimento da oferta do Hamas para depor as armas antes, mas afirmou que seria uma medida significativa se for verdade.
“É significativo no sentido de que os palestinos estão resistindo à ocupação, porque há uma ocupação. Se a ocupação não existe, eles não precisam resistir”, destacou à CNN, se referindo ao controle militar de Israel sobre territórios capturados em 1967, onde vivem milhões de palestinos.
Oferta criticada como golpe de relações públicas
Efraim Inbar, presidente do Instituto de Estratégia e Segurança de Jerusalém, disse que a exigência do retorno dos refugiados palestinos às suas “casas ancestrais” no que é hoje Israel seria um fracasso, pois equivaleria à “destruição do Estado de Israel”, onde os judeus formam a maioria.
Ele classificou a fala do Hamas como um golpe de relações públicas destinado às nações ocidentais.
“Eles veem que há muito apoio no mundo ocidental [para os palestinos]… e tentam mostrar que são os ‘mocinhos’ e que Israel são os bandidos, e Israel dirá não”, advertiu.
Os Estados Unidos e os países europeus podem aproveitar a situação para pedir a Israel “que dê uma oportunidade a eles”, destacou Inbar, mas é provável que o governo israelense aceite o gesto “com cautela”.
O governo de Netanyahu prometeu eliminar o Hamas depois de o grupo ter realizado um ataque contra Israel em 7 de outubro, matando 1.200 pessoas e sequestrando outras 250.
Na quarta-feira (24), Khalil al-Hayya, integrante de alta patente do Hamas, afirmou à Associated Press em Istambul que o grupo aceitaria “um Estado palestino totalmente soberano na Cisjordânia e na Faixa de Gaza e a volta dos refugiados palestinos de acordo com as resoluções internacionais”.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, se opõe a essa perspectiva, argumentando que colocaria em perigo a segurança do seu país.
Adesão a organizações e acordos
Hayyah também ressaltou à AP que o Hamas se juntaria à Organização para a Libertação da Palestina (OLP) para formar um governo unificado para Gaza e a Cisjordânia.
O Hamas se absteve de aderir à OLP, um grupo guarda-chuva de grupos palestinos que assinaram acordos de paz na década de 1990.
Mustafa Barghouti, presidente da Iniciativa Nacional Palestina, por sua vez, destacou que o Hamas indicou em 2007, quando liderou um governo de unidade nacional palestino, que estava disposto a aceitar um Estado palestino ao longo das fronteiras de 1967.
O grupo armado, segundo ele acrescentou, também tem sido a favor da adesão à OLP, mas essa medida não equivaleria automaticamente ao reconhecimento de Israel ou dos Acordos de Oslo que a OLP assinou na década de 1990.
O Hamas não emitiu uma declaração oficial descrevendo as concessões que seus integrantes têm elogiado e não está claro se as declarações feitas pelos seus responsáveis no estrangeiro refletem o pensamento da sua ala militar na Faixa de Gaza.
Questionado se a declaração de Hayyah à AP representa uma mudança na posição do Hamas, Basem Naim, membro do gabinete político, ressaltou à CNN que suas observações refletem a mensagem do grupo desde o início da guerra com Israel.
Até agora, Israel não conseguiu atingir o seu objetivo declarado de eliminar o Hamas da Faixa de Gaza, sem que nenhum dos principais líderes do grupo fosse capturado ou morto.
Ainda assim, conseguiu destruir significativamente as suas capacidades militares e de governo grupo à medida que bombardava o território palestino e o deixava em ruínas.
Na semana passada, o ministro das Relações Exteriores da Turquia, Hakan Fidan, disse em coletiva de imprensa na capital do Catar, Doha, que o Hamas está disposto a funcionar apenas como um partido político assim que um Estado palestino for criado, citando reuniões entre o grupo e autoridades turcas.
Ele apelou ao Hamas “para expressar claramente as suas posições”.
Inbar, do Instituto de Estratégia e Segurança de Jerusalém, destacou que depois de 7 de outubro, os israelenses tratam o Hamas como uma entidade hostil e querem vê-lo derrotado.
“Entendemos que eles tentarão reconstruir a infraestrutura militar” depois de Israel a destruir, disse ele, acrescentando que Israel continuará “cortando o mato”, uma referência a operações militares ocasionais para diminuir a capacidade militar do Hamas.
Zeena Saifi e Abeer Salman da CNN contribuíram para este relatório.