A noite úmida e agitada de março não deteve os milhares de pessoas que se reuniram para protestar em frente ao gabinete do primeiro-ministro.
Por Daniel Hornak e Kevin Whitelaw | Bloomberg
BRATISLAVA — "A retórica e a propaganda pró-Rússia por parte de funcionários do governo são inaceitáveis e ameaçam nossos interesses de segurança e futuro!", declarou um orador, provocando um coro de apoio de "Vergonha! Vergonha! Vergonha!", da multidão.
Foi-se o tempo em que diplomatas eslovacos reuniam os Estados-membros da UE para abrir negociações de adesão com a Ucrânia. Ou quando Bratislava forneceu ajuda militar, incluindo jatos e veículos de combate, para reforçar as defesas de Kiev.
Com o retorno de Robert Fico ao poder no ano passado, a Eslováquia se aproximou da política do húngaro Viktor Orbán, tornando-se um dos países mais pró-Rússia da Europa.
A Eslováquia ainda está cumprindo formalmente seus compromissos com a UE e a Otan, mas a mudança foi dramática. E a eleição presidencial do próximo fim de semana pode acabar solidificando essa trajetória.
O aliado de Fico, o candidato presidencial Peter Pellegrini, é favorito. Ele defende a "paz e tranquilidade" na sociedade eslovaca, alinhando-se com as posições de Fico. Seu principal rival, o ex-ministro das Relações Exteriores Ivan Korcok, quer realinhar a Eslováquia com os interesses transatlânticos.
A visão de Fico de uma "política externa soberana eslovaca" significa recusar-se a fornecer qualquer ajuda militar à Ucrânia. E repreendeu ostensivamente os aliados da UE por sua falta de ambição em alcançar a paz na Ucrânia durante as recentes negociações em Paris.
Quando o embaixador britânico na Eslováquia explicou em uma mensagem de vídeo por que era mentira acusar o Ocidente assim, Fico o criticou publicamente. Pouco depois, seu ministro das Relações Exteriores convocou um diplomata holandês para repreendê-la por um plano da embaixada do país em Praga para sediar um debate sobre o impacto da política externa eslovaca.
Essas brigas diplomáticas não passaram despercebidas. Na semana passada, o governo tcheco suspendeu as consultas do governo com a Eslováquia por divergências de política externa. A França excluiu os representantes eslovacos das conversações subsequentes sobre o quadro de paz da Ucrânia.
Enquanto isso, o Kremlin está satisfeito. O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, elogiou recentemente o governo eslovaco por "ter sua própria opinião sobre a situação no mundo".
Fico não parece tão preocupado em perder amigos na Europa. Em vez disso, ele está ocupado remodelando as instituições públicas, visando vozes dissidentes dentro da aplicação da lei, sufocando investigações e minando a mídia independente e grupos civis.
Até agora, seu abraço a Moscou tem limites. Fico ainda não bloqueou ações em cúpulas da UE, por exemplo. Mas isso pode mudar à medida que mais se isola na Europa.