"Prepare-se para todos os cenários possíveis" na Ucrânia, incluindo o envio de tropas terrestres. Em uma entrevista ao jornal Le Parisien publicada no sábado (16), o presidente francês Emmanuel Macron insistiu que "talvez em algum momento isso tenha que ser feito", e "todos assumirão suas responsabilidades", disse o chefe de Estado, mais uma vez provocando reações mistas.
RFI
Como sempre acontece, é do lado do partido França Insubmissa - movimento fundado pelo candidato de esquerda Jean-Luc Mélenchon - que as reações são mais fortes, de acordo com Aurélien Devernoix, do serviço político da RFI. Para Jean-Luc Mélenchon, convidado deste domingo (17) no canal público de TV France 3, Emmanuel Macron está escolhendo a guerra em vez da paz.
Macron deixa classe política francesa nervosa sobre ‘possível’ envio de tropas à Ucrânia © AP - Ebrahim Noroozi |
"Se eu fosse presidente da República, eu não faria nada disso. Eu tentaria dizer a mim mesmo: 'Como podemos entrar em paz', em vez de me perguntar: 'Como vamos entrar em guerra?' Não estamos em posição de confrontar a Rússia. Só estamos prontos para uma coisa: guerra nuclear", disse Mélenchon, que foi por três vezes candidato à cadeira do Palácio do Eliseu.
Na BFMTV, Raphaël Glucksmann, líder da coligação francesa Partido Socialista-Place Publique, reconhece a realidade do cenário de envio de tropas, mas o considera prematuro. "Se fizermos o que temos que fazer hoje, não precisaremos delas". Em sua opinião, Macron está "lançando hoje um debate que não tem lugar".
A direita e a extrema direita suspeitam que Emmanuel Macron esteja deliberadamente lançando esse debate. "Será que ele quer travar uma guerra contra a Rússia ou ocupar espaço político no meio da campanha eleitoral europeia?", perguntou o chefe do partido conservador Os Republicanos (LR), Éric Ciotti, nas redes sociais.
Uma pergunta à qual o presidente do partido de extrema direita Reunião Nacional, Jordan Bardella, respondeu também nas mídias sociais: o presidente da República "está usando a guerra para fins de política interna", alegou ele, antes de acrescentar: "Esse tipo de imprudência, irresponsabilidade e cinismo está preocupando o povo francês".
Como anda a guerra Rússia-Ucrânia?
Neste domingo, os russos votam no terceiro dia da eleição presidencial, enquanto a Ucrânia aplica pressão militar, incluindo ataques de drones.
A semana inteira foi marcada por ataques mortais e tentativas de incursões armadas da Ucrânia em território russo. Vladimir Putin prometeu vingança na sexta-feira (15), já que esses ataques são uma resposta aos bombardeios diários da Rússia contra a Ucrânia desde 24 de fevereiro de 2022.
Incursões armadas da vizinha Ucrânia ocorreram nas regiões de Belgorod e Kursk, ataques reivindicados por unidades anti-Putin que afirmam ser compostas por russos. No sábado, um desses grupos, a "Legião da Liberdade da Rússia", conclamou os civis a evacuar a cidade de Belgorod: "Vocês não precisam ser os escudos humanos de Putin".
O exército russo disse no domingo que havia destruído 35 drones ucranianos que sobrevoavam várias regiões da Rússia, incluindo Moscou, um número particularmente alto. Vladimir Rogov, um oficial da ocupação no sul da Ucrânia, também acusou o exército de Kiev de atacar uma seção eleitoral na região de Zaporijjia usando drones, causando um incêndio, mas sem vítimas.
Moscou, por sua vez, continua seu bombardeio contra a Ucrânia. Um ataque matou 21 pessoas em Odessa na sexta-feira, 15 de março.
Forças navais russas aumentam poder de fogo
O ministro da Defesa da Rússia, Sergei Shoigu, ordenou que suas forças navais no mar Negro aumentem seu poder de fogo e intensifiquem seu treinamento para combater melhor os drones ucranianos, que têm frustrado com sucesso a poderosa frota de Moscou.
Em dois anos de conflito em larga escala, a Ucrânia obteve uma série de sucessos contra a frota russa no mar Negro, permitindo a reabertura de um corredor marítimo para a exportação de grãos ucranianos, desafiando as ameaças de bombardeio da Rússia.
Os militares ucranianos afirmaram no início de fevereiro que cerca de um terço dos navios de guerra russos haviam sido "desativados" na área. De acordo com relatos da mídia russa, o comandante da frota, Nikolai Evmenov, foi recentemente demitido e substituído por Alexander Moisseyev, até agora chefe da Frota do Norte. Questionado sobre o assunto no começo da semana, o Kremlin se recusou a comentar, mas não negou o fato.
(Com RFI e AFP)