O Hamas disse nesta segunda-feira que segue com as negociações para garantir um cessar-fogo em Gaza, apesar da decisão de Israel de não comparecer, enquanto Washington pareceu adotar uma linha mais dura ao exigir que seu aliado Israel alivie a situação dos civis em sofrimento.
Por Nidal al-Mughrabi e Bassam Masoud | Reuters
CAIRO/RAFAH, Faixa de Gaza - As negociações sobre cessar-fogo, que começaram no domingo no Cairo, são consideradas um obstáculo final para estabelecer o primeiro cessar-fogo prolongado da guerra de cinco meses, a tempo para o mês de jejum muçulmano do Ramadã, que está previsto para começar no domingo.
Palestinos se reúnem em local atingido por ataque israelense em Rafah 4/3/2024 REUTERS/Mohammed Salem |
Israel se recusou a fazer comentários públicos sobre as negociações no Cairo ou sobre sua decisão de não participar. Uma fonte havia dito anteriormente à Reuters que Israel não participaria porque o Hamas rejeitou seu pedido de uma lista com os nomes de todos os reféns que ainda estão vivos, informação que os militantes dizem que fornecerão somente quando os termos forem acordados.
"As conversações no Cairo continuam pelo segundo dia, independentemente de a delegação da ocupação estar presente no Egito", disse uma autoridade do Hamas à Reuters nesta segunda-feira.
Washington, que é o aliado mais próximo de Israel e patrocinador das negociações, diz que um acordo continua próximo, com um acerto já efetivamente acordado por Israel e aguardando apenas a aprovação do Hamas.
"O Hamas afirma que quer um cessar-fogo. Bem, há um acordo sobre a mesa. E, como dissemos, o Hamas precisa concordar com esse acordo", disse a vice-presidente Kamala Harris no domingo. "Vamos conseguir um cessar-fogo. Vamos reunir os reféns com suas famílias. E vamos fornecer alívio imediato para o povo de Gaza."
Em um discurso que sinaliza uma aparente mudança de tom do governo do presidente norte-americano, Joe Biden, em relação ao seu aliado, Kamala também usou uma linguagem excepcionalmente vigorosa para pedir que Israel faça mais para aliviar a situação humanitária da Faixa de Gaza.
"As pessoas em Gaza estão morrendo de fome. As condições são desumanas e nossa humanidade comum nos obriga a agir", disse ela. "O governo israelense tem que fazer mais para aumentar significativamente o fluxo de ajuda. Não há desculpas."
Uma autoridade palestina próxima às negociações contestou a alegação dos EUA de que Israel havia concordado com o acerto de cessar-fogo e que o Hamas o estava impedindo, dizendo que a posição parecia ter como objetivo desviar a culpa de Israel caso as negociações fracassem.
"A resistência palestina, liderada pelo Hamas, demonstrou a flexibilidade necessária, mas, ao mesmo tempo, está determinada a defender seu povo e a chegar a um acordo que seja aceitável para o povo palestino", declarou a autoridade.
A proposta que está sendo discutida é de um cessar-fogo de cerca de 40 dias, durante os quais os militantes libertariam cerca de 40 dos mais de 100 reféns que ainda mantêm em troca de cerca de 400 detentos mantidos nas prisões israelenses.
As tropas israelenses recuariam de algumas áreas, seria permitida a entrada de mais ajuda humanitária em Gaza e os moradores teriam permissão para retornar às casas abandonadas.
Mas o acordo não parece abordar diretamente a demanda do Hamas por um caminho claro para o fim permanente da guerra. Também não resolve o destino de mais da metade dos reféns restantes - homens israelenses excluídos desse acordo e de acordos anteriores que abrangem mulheres, crianças, idosos e feridos.
Israel afirma que não encerrará a guerra até que o Hamas seja erradicado. O Hamas diz que não libertará todos os seus reféns sem um acordo que ponha fim à guerra. Os mediadores indicaram que esperam superar o impasse com promessas de resolver outras questões em fases posteriores.