Baptista Júnior e Freire Gomes afirmaram a investigadores que militar respaldou ideias golpistas
Fabio Serapião, Cézar Feitoza e Julia Chaib | Folha de S.Paulo
Brasília - O ex-comandante da Aeronáutica Carlos Almeida Baptista Júnior afirmou à Polícia Federal que o ex-comandante da Marinha Almir Garnier Santos colocou tropas à disposição de Jair Bolsonaro (PL) ao discutir planos para tentar impedir a posse do presidente Lula (PT).
Ex-comandante da Marinha, Almir Garnier foi alvo de operação da Polícia Federal - Pedro Ladeira/Folhapress |
"Que em uma das reuniões com os comandantes das Forças após o segundo turno das eleições, dentro do contexto apresentado pelo então presidente Jair Bolsonaro, de utilização dos institutos, de GLO e defesa, o então comandante da Marinha, Almir Garnier, afirmou que colocaria suas tropas à disposição de Jair Bolsonaro", diz trecho do depoimento de Baptista Júnior ao qual a Folha teve acesso.
A declaração de Baptista Júnior reforça a do ex-comandante do Exército Marco Antônio Freire Gomes, que sugeriu à PF que Garnier concordou com as ideias propostas nas versões das minutas golpistas discutidas com Bolsonaro.
Segundo o depoimento de Freire Gomes, ao qual a Folha também teve acesso, Garnier teria se colocado "à disposição" do então mandatário durante uma das reuniões em que foi discutida uma das versões da minuta golpista. Procurada pela reportagem, a defesa do ex-comandante da Marinha ainda não se manifestou.
Freire Gomes relatou que no encontro também estava o então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, além de Bolsonaro e os três comandantes das Forças.
"Disse que ainda em outra reunião em data que não se recorda, Bolsonaro apresentou uma versão do documento com a decretação do estado de defesa e a criação de uma comissão de regularidade eleitoral para apurar a conformidade e legalidade do processo eleitoral. Que na reunião estavam os três comandantes e o ministro da Defesa", como consta no depoimento de Freire Gomes.
"Disse que ele e Baptista afirmaram de forma contundente suas posições contrárias ao conteúdo exposto. Que não teria suporte jurídico para tomar qualquer atitude. Que acredita, pelo que se recorda, que o almirante Garnier teria se colocado à disposição do presidente da República", diz outro trecho da oitiva do general.
O ex-comandante relatou ao menos três reuniões com Bolsonaro em que foram discutidas minutas golpistas. Ele relatou também um encontro no Ministério da Defesa no qual hipóteses para impedir a posse de Lula também foram debatidas.
Nesta reunião, relatou Freire Gomes, o próprio ministro da Defesa apresentou uma minuta "mais abrangente" do que a que apresentada por Bolsonaro em encontro anterior, "mas da mesma forma decretava o estado de defesa e instituía a comissão de regularidade eleitoral."
"Que da mesma forma o depoente e Baptista Júnior se posicionaram contrários às medidas constantes na minuta de decreto, que impediria a posse do governo eleito. Que acredita que da mesma forma o almirante Garnier não se manifestou sobre o conteúdo do decreto. Que o ministro não questionou a posição do depoente e de Batista Júnior", relatou Freire Gomes.
As declarações de Baptista Júnior e do general reforçam o que havia sido dito pelo tenente-coronel Mauro Cid, de que Ganier havia anuído com a ideia do golpe.
O ex-comandante da Marinha foi alvo de mandados de busca e apreensão expedidos pela PF em fevereiro, com base na colaboração de Cid.
No pedido de buscas, a Polícia Federal informou ao STF (Supremo Tribunal Federal) que Garnier participou de reunião no Palácio da Alvorada, em 7 de dezembro, na qual Bolsonaro discutiu com chefes militares e auxiliares uma minuta de decreto golpista.
Garnier também teve de entregar o passaporte, ficou proibido de sair do país e de manter contato com outros investigados.