O depoimento do ex-comandante do Exército Freire Gomes foi considerado por aliados e auxiliares de Jair Bolsonaro, o “relato mais grave”, até agora, sobre o ex-presidente no inquérito do golpe.
Por Bela Megale | O Globo
Para o entorno do capitão reformado, o depoimento detalhado que o general deu sobre sua participação em reuniões com Bolsonaro e o ex-ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira é tão grave quanto as revelações da delação do ex-ajudante de ordens, o tenente-coronel Mauro Cid.
Freire Gomes, ex-comandante do Exército; Jair Bolsonaro; e Paulo Sérgio, ex-ministro da Defesa — Foto: Cristiano Mariz/Agência O Globo |
O trecho que gera mais preocupação é a confirmação do ex-comandante, de que o próprio ex-presidente apresentou a minuta golpista e discutiu seu teor em, ao menos, duas reuniões. Para conselheiros de Bolsonaro que atuam na área jurídica, não será fácil dar uma explicação que convença os investigadores de que os encontros tinham caráter democrático.
Hoje, a linha de defesa é reforçar que Bolsonaro não chegou a assinar nenhum documento. A avaliação da PF e do Supremo Tribunal Federal (STF), porém, é que atentar contra o estado democrático já configura o crime.
Aos investigadores, Freire Gomes disse que “se recorda de ter participado de reuniões no Palácio do Alvorada, após o segundo turno das eleições, em que o então Presidente da República JAIR BOLSONARO apresentou hipóteses de utilização de institutos jurídicos como GLO, ESTADO DE DEFESA e ESTADO DE SÍTIO em relação ao processo eleitoral”.
O general informou que, no segundo encontro de Bolsonaro com os comandantes das Forças Armadas, o então presidente apresentou uma versão do documento com a "Decretação do Estado de Defesa" e a criação da "Comissão de Regularidade Eleitoral", com o objetivo de “apurar a conformidade e legalidade do processo eleitoral”.
A situação também é considerada grave para o ex-comandante e ex-ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira. Pela primeira vez, um depoimento revela que ele discutiu abertamente a minuta golpista com membros da alta cúpula militar.
Freire Gomes também implicou diretamente o ex-ministro da Justiça Anderson Torres, ao dizer que a minuta golpista apreendida em sua casa tinha o mesmo teor daquela debatida no Palácio da Alvorada com Bolsonaro e na pasta da Defesa, com Nogueira. Torres, segundo o militar, teria prestado um tipo de assessoria jurídica sobre a viabilidade de algum decreto golpista.
Já a defesa do ex-ministro e ex-candidato a vice de Bolsonaro, Walter Braga Netto, considerou o depoimento de Freire Gomes “positivo” para o general. Isso porque Freire Gomes foca suas declarações aos ataques feitos por Braga Netto contra ele, mas não aponta o ex-ministro como presente nas reuniões golpistas.