A polícia brasileira está investigando se um general da reserva que foi companheiro de chapa do ex-presidente de extrema direita Jair Bolsonaro planejava levar forças especiais do Exército para a capital do país como parte de um plano para um golpe militar após perder as eleições de 2022.
Por Lisandra Paraguassu e Ricardo Brito | Reuters
BRASÍLIA - O general Walter Braga Netto, que foi ministro da Defesa e chefe da Casa Civil de Bolsonaro, discutiu a preparação da viagem e moradia de integrantes de uma unidade guerrilheira para ajudar a fomentar um golpe em Brasília, segundo documentos vistos pela Reuters e duas fontes com conhecimento da investigação.
Eles dizem que os investigadores descobriram que Braga Netto teve papel fundamental em um complô liderado por Bolsonaro para impedir que Luiz Inácio Lula da Silva assumisse o cargo. A trama foi frustrada por ex-comandantes do Exército e da Marinha, que disseram se recusar a participar da conspiração.
"Braga Netto atuou como incentivador e influenciador entre os demais comandantes do Exército", disse uma das fontes, que pediu anonimato para falar abertamente sobre uma investigação em andamento.
A fonte disse que os investigadores suspeitam que Braga Netto buscava financiar tanto membros das Forças Armadas quanto apoiadores de Bolsonaro acampados em frente ao quartel-general do Exército, em Brasília, pedindo que os militares anulassem o resultado da eleição.
O advogado de Braga Netto não respondeu a um pedido de comentário.
Os documentos vistos pela Reuters mostram que Braga Netto organizou uma reunião em seu apartamento em Brasília para discutir como arrecadar fundos para trazer um contingente de soldados de elite à capital para a tentativa de golpe.
O encontro ocorreu menos de duas semanas depois de Bolsonaro perder o segundo turno para Lula, no fim de outubro.
Segundo as fontes, o plano arquitetado naquela reunião era trazer secretamente para Brasília tropas com treinamento especial em guerra de contra-insurgência e técnicas de sabotagem para provocar violência para justificar a lei marcial e anular a eleição.
O plano incluía um projeto de decreto para declarar "estado de sítio", cujas cópias foram encontradas por investigadores de polícia.
Os conspiradores discutiram a necessidade de 100 mil reais para custos de "transporte, hotel e material" para trazer membros das forças especiais a Brasília, disseram as fontes.
Braga Netto se recusou a responder perguntas da Polícia Federal sobre tal plano, segundo documentos do STF revelados na semana passada.
Bolsonaro negou ter tentado um golpe nos dias seguintes à sua derrota eleitoral, o que nunca admitiu. Partiu para os Estados Unidos para evitar entregar a faixa presidencial a Lula.
Dias depois, seus apoiadores, que acamparam por semanas em frente ao quartel-general do Exército, invadiram prédios do governo em uma tentativa violenta de provocar um golpe.