Altos funcionários da União Europeia revelaram na terça-feira planos para impulsionar a indústria de armas do continente, argumentando que a guerra da Rússia na Ucrânia mostrou que os países membros devem aumentar as compras conjuntas de armas e dedicar mais gastos às empresas europeias.
Por Andrew Gray e Bart H. Meijer | Reuters
BRUXELAS - A Comissão Europeia, órgão executivo da UE, propôs gastar 1,5 bilhão de euros (US$ 1,63 bilhão) para dar aos países incentivos para comprar em conjunto de empresas europeias e incentivar a indústria a aumentar a capacidade e desenvolver novas tecnologias.
"Nos últimos dois anos, enfrentamos uma situação de uma indústria de defesa sem capacidade de produção suficiente para atender ao forte aumento da demanda", disse Margrethe Vestager, vice-presidente da Comissão, a repórteres em Bruxelas.
"Fomos vividamente confrontados com a conhecida fragmentação estrutural ao longo das fronteiras nacionais", disse Vestager.
Ela disse que os governos nacionais da UE que fazem encomendas a empresas favorecidas de seus próprios países limitam as economias de escala, criam desconfiança e impedem a concorrência.
Vestager reconheceu que 1,5 bilhão de euros "não é muito dinheiro quando se trata da indústria de defesa", mas disse que ainda pode criar incentivos para que os 27 governos nacionais da UE - que têm responsabilidade pela defesa - trabalhem juntos.
A Comissão disse que queria vincular a Ucrânia o mais estreitamente possível aos seus novos planos, apesar de não ser membro da UE.
As autoridades também levantaram a perspectiva de que a UE poderia usar os lucros dos ativos russos congelados para ajudar a indústria de defesa da Ucrânia ou até mesmo comprar armas para Kiev. Mas os membros da UE ainda não chegaram a um acordo sobre como esses fundos devem ser usados.
Alarmados com a guerra da Rússia na Ucrânia e a retórica belicosa de Moscou em relação ao Ocidente, os países da UE aumentaram drasticamente os gastos com defesa nos últimos anos. Grande parte desse dinheiro foi para empresas fora da Europa.
Entre o início da guerra e junho do ano passado, os países da UE gastaram mais de 100 bilhões de euros em equipamentos militares - 80% fora da UE, com mais de 60% indo apenas para os Estados Unidos, de acordo com a Comissão.
COMPRAR EUROPEU
A Comissão disse na terça-feira que a UE deve ter como objetivo adquirir pelo menos 40% do equipamento de defesa "de forma colaborativa" até 2030 e gastar pelo menos 50% dos orçamentos de aquisição de defesa na UE até a mesma data.
A Comissão propôs igualmente um programa-piloto para criar uma versão europeia do regime de vendas militares estrangeiras dos EUA, ao abrigo do qual os Estados Unidos ajudam outros governos a comprar a empresas de armamento norte-americanas.
"Não temos um Pentágono em lugar nenhum. Não temos uma instituição que tenha uma forte capacidade de compra, impulsionando o mercado e impulsionando a indústria", disse o chefe de política externa da UE, Josep Borrell. "Mas temos que cooperar e coordenar."
Para se tornarem realidade, as propostas precisarão da aprovação dos países membros da UE – que têm relutado em ceder o poder em matéria de defesa e política militar – e do Parlamento Europeu.
A associação europeia da indústria de defesa, ASD, saudou as propostas numa primeira e grande congratulação.
"A velocidade e os recursos financeiros serão cruciais para sua implementação", disse Jan Pie, secretário-geral do órgão.
As propostas também serão estudadas de perto pela Otan, que saudou maiores esforços da UE em matéria de defesa, mas alertou que elas não devem duplicar ou entrar em conflito com o trabalho da aliança transatlântica.
Se aprovado, o pacote de 1,5 bilhão de euros seria gasto entre 2025 e 2027.
Thierry Breton, comissário europeu da Indústria, defendeu um fundo de defesa da UE de 100 mil milhões de euros. Mas essa ideia ainda não encontrou amplo apoio entre os países membros da UE.
Reportagem adicional de Inti Landauro