O ministro de Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, chegou à cidade de Ramallah, na Cisjordânia ocupada, na manhã deste domingo (17), para dar início a uma turnê diplomática no Oriente Médio.
Monitor do Oriente Médio
Vieira foi recebido pelo ministro de Relações Exteriores da Autoridade Palestina, Riyad al-Maliki, que lhe informou sobre a gravidade da crise humanitária em Gaza e agradeceu o “papel corajoso” do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em defesa do povo palestino.
Ministro de Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, chega a Ramallah, na Cisjordânia ocupada, em 17 de março de 2024 [Itamaraty/Divulgação] |
Segundo al-Maliki, o presidente brasileiro demonstrou “liderança, coragem, compromisso e humanismo ao longo da atual crise em Gaza”.
O chanceler palestino expressou, contudo, apreensão com a ameaça de uma invasão militar de Israel a Rafah, cidade na fronteira com o Egito que abriga hoje 1,5 milhão de refugiados. Ademais, reportou a escalada da violência colonial na Cisjordânia.
Vieira visitou a seguir o Escritório de Representação do governo brasileiro em Ramallah, acompanhado pelo embaixador Alessandro Candeias.
Sua agenda avançou a um encontro com o primeiro-ministro da Autoridade Palestina, Mohammed Shtayyeh, e uma audiência extraordinária com o presidente Mahmoud Abbas, eventos nos quais tratou da conjuntura regional.
Abbas agradeceu pelo “histórico empenho e amizade do presidente Lula com a Palestina e pela coragem ao assumir papel de referência global em defesa dos palestinos na atual crise”, segundo postagem nas redes sociais do Itamaraty.
Por fim, Vieira participou em Ramallah da cerimônia de outorga, ao presidente Lula, do título de Membro Honorário do Conselho dos Curadores da Fundação Yasser Arafat, ao receber o diploma das mãos de Shtayyeh.
Em seu discurso, o ministro brasileiro mencionou o drama humanitário em Gaza e criticou Israel e a comunidade internacional pela falta de respostas humanitárias à crise.
Após produzir um informe sobre as ações de seu governo desde outubro, Vieira caracterizou como “ilegal e imoral” as ações israelenses, ao negar água, alimento e medicamentos à população civis, atacar comboios humanitários e destruir hospitais.
“A credibilidade do sistema internacional está debaixo dos escombros de Gaza”, reafirmou Vieira. “O flagelo da guerra persegue-nos novamente, à medida que todos os limites da nossa humanidade partilhada já foram ultrapassados”.
O chanceler citou ainda os apelos de Lula durante a 37ª Cúpula da União Africana, em Adis Abeba, na Etiópia, “para que resgatemos as nossas melhores tradições humanistas”.
“A voz forte do presidente Lula, que pede o fim do conflito em Gaza, é a de profunda indignação, de alguém que procura sinceramente preservar e valorizar a importância suprema da vida humana”, acrescentou, ao reafirmar o apoio brasileiro à admissão da Palestina nas Nações Unidas, como membro integral.
Reiteramos também o apoio do Brasil a uma paz duradoura para o Oriente Médio, com dois Estados, Palestina e Israel, convivendo lado a lado, em paz e segurança, dentro de fronteiras mutuamente acordadas e reconhecidas internacionalmente.
O ministro concluiu ao desejar feliz Ramadã ao povo palestino, em referência às celebrações do mês sagrado islâmico, entre 11 de março e 9 de abril.
Vieira declarou-se “emocionado” pelas imagens de congregação em Gaza, apesar da devastação. “Por mais tristes e preocupantes que sejam essas imagens, mostram a força e a resiliência do corajoso povo palestino. Essa é sua melhor bênção”.
Roteiro
A visita à Cisjordânia é a primeira etapa da viagem de cinco dias do ministro ao Oriente Médio. Ao longo da semana, Vieira visitará Jordânia, Líbano e Arábia Saudita.
Além da crise em Gaza, o chanceler brasileiro deve debater temas como cooperação técnica, comércio e investimentos.
Após a cidade de Ramallah, Vieira viajou em voo direto a Amã, capital da Jordânia, sem desembarcar em Israel — sinal de repúdio do Itamaraty após seu homólogo israelense, Israel Katz, declarar Lula “persona non grata” no Estado ocupante.
Em Amã, Vieira se reuniu com o chanceler, Ayman Safadi, e com o rei da Jordânia, Abdullah II, junto do embaixador Marcio Fagundes do Nascimento. Ambos transmitiram seu reconhecimento do papel diplomático de Lula diante da crise em Gaza.
Abdullah destacou interesses em aprofundar a cooperação de defesa e agricultura.
Em coletiva conjunta, Vieira e Safadi anunciaram esforços nos setores de comércio, investimentos, agricultura, turismo e segurança.
Israel mantém ataques a Gaza desde 7 de outubro, deixando 31.645 mortos, 73.676 feridos e dois milhões de desabrigados, em meio à destruição de 60% da infraestrutura civil.
Apesar de uma ordem do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), sediado em Haia, de 26 de janeiro, Israel ainda impõe um cerco militar absoluto a Gaza — sem comida, água, medicamentos, energia elétrica ou combustível. A denúncia sul-africana, que culminou nas recomendações de Haia, tem apoio do Brasil.
As ações israelenses são punição coletiva, crime de guerra e genocídio.