O Comandante da Marinha do Brasil, Almirante de Esquadra Marcos Sampaio Olsen, disse no final da apresentação no canal Personalidades em Foco no YouTube (em 1h49min), ao falar sobre a necessidade de aumento do orçamento, que o Presidente Lula o “provocou” a respeito de um porta-aviões
Alexandre Galante | Poder Naval
O Almirante Olsen disse que respondeu ao Presidente: “Se o senhor me der hoje um porta-aviões, eu não tenho como operar esse porta-aviões. Não tenho recursos no custeio para combustível, para manutenção. Eu preciso necessariamente, a despeito de outras fontes que visam a obtenção dos meios, preciso da capacidade de manter esses meios”.
NAe São Paulo e NAeL Minas Gerais navegando juntos em 2001 |
O Presidente Lula deve guardar lembranças da visita que fez com sua comitiva ao Navio-Aeródromo São Paulo (A12) em 4 de agosto de 2004, onde assistiu a pousos e decolagens dos jatos AF-1 Skyhawk, ao largo Espírito Santo. O NAe São Paulo, ex-PA Foch da Marinha Francesa, foi adquirido em 2001, no governo de Fernando Henrique Cardoso, para substituir o antigo NAeL Minas Gerais (A11), adquirido da Inglaterra em 1956 e incorporado em 1960, após extensa modernização na Holanda.
Contudo, em 2005, um ano depois da visita do Presidente Lula, o NAe São Paulo sofreu um acidente com o rompimento de uma tubulação de vapor e depois não voltou a operar normalmente, por outros problemas técnicos e contingenciamento de recursos. Após longo estudo para modernização, decidiu-se pela desativação do navio em 2018, devido ao seu alto custo e incertezas técnicas.
O casco do ex-NAe São Paulo foi adquirido pelo estaleiro turco Sok para ser desmantelado, mas em 9 de setembro de 2022, quando estava chegando àquele país, teve que dar meia-volta e retornar ao Brasil. A Turquia não autorizou a atracação do navio devido à presença de amianto a bordo.
O casco do navio acabou sendo afundado pela Marinha do Brasil em 3 de fevereiro de 2023, a 350 Km da costa em local com profundidade aproximada de 5 mil metros.
Substituto
Para preencher a lacuna deixada pelo NAe São Paulo, a Marinha adquiriu em 2018, o porta-helicópteros britânico HMS Ocean, que no Brasil foi rebatizado inicialmente como Porta-Helicópteros Multipropósito Atlântico (A140) e mais tarde, como Navio-Aeródromo Multipropósito (NAM).
Embora o NAM Atlântico seja útil, ele não tem capacidade para operar os jatos AF-1 Skyhawk da Aviação Naval, que passaram a operar somente de terra.
A Marinha em breve terá de decidir sobre o futuro do 1° Esquadrão de Aviões de Interceptação e Ataque (VF-1), se novos aviões serão comprados para substituir os AF-1 Skyhawk ou se o esquadrão será desativado. Mas só fará sentido adquirir novos aviões, se um novo navio-aeródromo estiver no horizonte.
A Estratégia Nacional de Defesa (END) lançada em 2008 no Governo Lula 2, previa a construção de navios-aeródromo e de propósitos múltiplos. Ela também dizia que “a Marinha trabalhará com a indústria nacional de material de defesa para desenvolver um avião versátil, de defesa e ataque, que maximize o potencial aéreo defensivo e ofensivo da Força Naval.”
Na edição de 2020 da END, a parte do desenvolvimento do avião naval foi suprimida, mas mantida a dos navios-aeródromo.
De qualquer forma, é preciso lembrar que um navio-aeródromo novo custará bilhões de dólares e seu grupo aéreo embarcado também. E a força de superfície da Esquadra, que está desaparecendo, precisa ser renovada com meios e números adequados para prover a proteção ao navio-aeródromo.