Avaliação de Kiev sobre situação no campo de batalha é cada vez mais sombria
Putin ainda pretende capturar Kiev, mostra inteligência ucraniana
Por Daryna Krasnolutska e Natalia Drozdiak | Bloomberg
Autoridades ucranianas estão preocupadas que os avanços russos possam ganhar impulso significativo até o verão, a menos que seus aliados possam aumentar o fornecimento de munição, de acordo com uma pessoa familiarizada com sua análise.
As avaliações internas da situação no campo de batalha a partir de Kiev estão ficando cada vez mais sombrias, à medida que as forças ucranianas lutam para conter os ataques russos enquanto racionam o número de projéteis que podem disparar.
O comandante-em-chefe Oleksandr Syrskyi disse na quinta-feira que erros dos comandantes da linha de frente agravaram os problemas enfrentados pelas defesas da Ucrânia em torno de Avdiivka, que foi capturada pelas forças russas este mês. Syrskyi disse que enviou mais tropas e munições para reforçar as posições ucranianas.
O pessimismo entre a Ucrânia e seus aliados vem aumentando há semanas, à medida que as forças russas tomam a iniciativa na linha de frente com a ajuda vital dos EUA retida no Congresso. A queda de Avdiivka e de várias aldeias próximas está alimentando temores de que as defesas de Kiev possam não ser capazes de se manter.
Essas perdas devem funcionar como um alerta para os aliados da Ucrânia, disse uma autoridade europeia.
"A Ucrânia pode começar a perder a guerra este ano", disse Michael Kofman, especialista em Rússia e Ucrânia do Carnegie Endowment for International Peace, no podcast War on the Rocks.
O presidente russo, Vladimir Putin, não desistiu de seu objetivo original de tomar grandes cidades, incluindo a capital Kiev e Odesa, de acordo com avaliações da inteligência ucraniana, disse a pessoa, pedindo anonimato para discutir assuntos que não são públicos. Se as forças russas chegarem a Odesa, poderão fechar as rotas cruciais de exportação de grãos da Ucrânia através do Mar Negro e também abrir acesso à Moldávia, onde a região separatista da Transnístria apelou na quarta-feira a Moscou por apoio político.
Dependendo dos resultados da atual campanha, a Rússia decidirá se continuará com um avanço lento ou se acumulará recursos para um ataque maior para romper as linhas ucranianas neste verão, disse uma pessoa próxima à liderança da Ucrânia.
Putin repetiu nesta quinta-feira que ainda planeja atingir as metas estabelecidas no início da invasão, que permanecem inalteradas desde 2022, durante um discurso em sua Assembleia Federal.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskiy, disse neste domingo que a escassez de munições está afetando a situação no campo de batalha e alertou que a Rússia está planejando uma nova ofensiva na primavera ou no início do verão.
"Será difícil para nós nos próximos meses porque há flutuações nos EUA que têm impacto em alguns países, embora a União Europeia tenha mostrado que é capaz de ser um líder com seu apoio", disse Zelenskiy.
Com as forças ucranianas desesperadas por mais munição, alguns aliados, liderados pela República Tcheca, estudam comprar cerca de 800.000 projéteis de artilharia de fora da UE para dar à Ucrânia.
Uma grande ofensiva ainda seria um desafio para o Kremlin após dois anos de guerra que esgotaram suas forças. Os esforços da Rússia para tomar Kiev, Kharkiv e avançar sobre Odesa nas primeiras semanas da guerra falharam espetacularmente.
Apesar da escassez da Ucrânia, a Rússia precisaria de muito mais soldados, mas também de tanques pesados e veículos para lançar uma ofensiva, disse o almirante Rob Bauer, presidente do comitê militar da Otan, em entrevista em 17 de fevereiro. Até agora, Moscou não conseguiu aumentar a produção com rapidez suficiente nessas áreas, disse ele.
Putin "tem mais artilharia, tem capacidade de substituir uma certa quantidade de mísseis todos os meses, que está usando, mas não tem tido sucesso total em termos de aumento de, por exemplo, tanques e veículos blindados", disse Bauer.
Ele apontou para relatórios ucranianos recentes de que, apesar da perda de Avdiivka, as tropas russas foram mortas a uma alta taxa de sete para cada soldado que Kiev perdeu.
"A proporção de um para sete significa que ele precisará de muitas forças para derrotar os ucranianos", disse Bauer.
A estratégia da Ucrânia é tentar manter a linha de frente o máximo possível até o segundo semestre, quando poderá receber caças F-16 e a produção de munição ocidental deve aumentar. Isso permitiria que Kiev planejasse outra possível contraofensiva em 2025.
— Com a colaboração de Aliaksandr Kudrytski e Jessica Loudis