Dono da Sacredi, Samir Almeida Silva, acumula 26 processos no TJDFT, sendo ao menos 19 deles relacionados a calote com a empresa
Jade Abreu | Metrópoles
Certos de que teriam um investimento lucrativo, oficiais da Força Aérea Brasileira (FAB) aplicaram parte da renda na S.A Consultoria, Assessoria e Soluções LTDA (Sacredi). No entanto, foram surpreendidos com um esquema de pirâmide.
Igo Estrela/Metrópoles |
O Metrópoles apurou que ao menos oito oficiais levaram o calote nas aplicações, resultando em um prejuízo de R$ 390 mil. Mas os valores podem ser muito maiores. Ao todo, o empresário responsável pela Sacredi, Samir Almeida Silva, acumula 26 processos no Tribunal da Justiça do Distrito Federal, sendo ao menos 19 relacionados ao calote com a empresa.
Além disso, Samir Almeida tem oito ocorrências na Justiça envolvendo estelionato. A consultoria não fica muito para trás: são 22 processos pelo CNPJ da instituição financeira em tramitação na justiça do DF. A empresa também soma críticas no site Reclame Aqui, envolvendo suposto golpe financeiro.
Acreditando que teriam retorno de 6,5% a 11% ao mês do total do valor investido, mais o lucro proposto, oficiais chegaram a fazer empréstimos com instituições financeiras. Mais de 30 pessoas se organizaram em um grupo nas redes sociais para manter informações a respeito de Samir e da empresa Sacredi.
“O pior é que os bancos já estão cobrando”, disse uma das vítimas. Ela afirma que já tem restrições com o nome por causa dos valores cobrados. “Pelo menos consegui tirar o desconto em folha”, destacou.
Empréstimos
Outra pessoa informou que ficou sabendo do lucro quando começou a circular informações dentro da FAB de que era um investimento vantajoso. “Ele veio com uma história de rentabilidade e que eu poderia ficar tranquila”, contou. “Perguntaram se eu não queria pegar um dinheiro a mais para fazer essa tal rentabilidade, porque aí eles pagariam para mim tantos porcentos todo mês e nisso já pagaria o como se fosse o empréstimo”, contou.
Os investimentos foram os mais variados: teve quem investiu R$ 1 mil e quem aplicou R$ 260 mil. Os militares da FAB tiveram trâmite realizado pelo AerConsig, sistema interno da FAB, segundo processos.
“Ele pagou por cinco meses: eu dei para ele um valor de R$ 40 mil e meu marido deu um valor de 10 mil. Daí ele começou a sumir, atrasar o pagamento, a não pagar”, contou. O negócio parecia realmente vantajoso inicialmente, pois nos primeiros meses havia realmente lucro e algumas vítimas começaram a recomendar o esquema para familiares.
“Eu recebi um dinheiro e queria investir”, disse uma parente de oficial que já tinha o dinheiro aplicado na Sacredi. “Eu investi R$ 40 mil, mas só que quando eu entrei, a firma era linda. No início ainda recebi uma parcela do dinheiro. Depois tentou negociar de todas as formas com as pessoas e acabou não pagando”, detalhou.
Saúde mental
A reportagem teve acesso ao processo de uma mulher grávida que viu o período de gestação ficar conturbado com os inúmeros calotes que a empresa aplicava nela. Em uma das mensagens com o corretor da Sacredi, ela afirma que não tem saúde mental para lidar com os atrasos constantes.
“Eu não tenho mais saúde mental para estar grávida passando por isso”, destacou. Os apelos não surtiram efeitos e ela processa a empresa após ter repassado R$ 262.500 à consultoria, no entanto, só foi ressarcida em R$ 66.513.
Samir chegou a ser condenado em alguns processos, sendo obrigado a penhora dos bens; mas ninguém mais o encontra e assim não é possível executar a sentença.
Prejuízos
Após a publicação da reportagem, o dono da Sacredi, Samir Almeida Silva, negou ao Metrópoles a existência de um esquema de pirâmide e disse que ele teve prejuízos. “Hoje, meu maior sonho é pagar essas pessoas”, afirmou.
Samir destacou que muitos dos que reclamam foram clientes por anos e tiveram grande rentabilidade com a empresa. “No meio do ano passado, tivemos problemas para arcar [com custos], mas nunca fugi. Meu número é o mesmo. Sempre atendi e expliquei [tudo] às pessoas [que contatavam]”, completou.