Investigação aponta que Forças Armadas postergou divulgação de relatório técnico depois que documento não identificou vulnerabilidade no sistema eletrônico de votação
Por Daniel Gullino e Sarah Teófilo | O Globo — Brasília
Investigação da Polícia Federal (PF) que apura que suspeita de que uma organização criminosa atuou na tentativa de golpe de Estado e abolição do Estado Democrático de Direito aponta para "gravíssima manipulação" do relatório técnico das Forças Armadas sobre o Sistema Eletrônico de Votação, postergando a divulgação depois que o documento não identificou vulnerabilidade nas urnas eletrônicas. O relatório foi coordenador pelo ministro da Defesa de Bolsonaro Paulo Sergio Nogueira.
Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa — Foto: Agência O Globo |
"No desdobramento das medidas direcionadas a criar desinformação e notícias fraudulentas contra o sistema eleitoral brasileiro, a autoridade policial também aponta a gravíssima manipulação do relatório técnico das Forças Armadas sobre o Sistema Eletrônico de Votação, coordenada pelo investigado Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, então Ministro da Defesa, postergando-se a sua divulgação em vista de não terem sido identificadas vulnerabilidades no sistema eletrônico de votação", pontua o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes na decisão que autorizou a operação da PF nesta quinta-feira.
Conforme Moraes, "a divulgação de que as Forças Armadas não teriam encontrado nenhuma vulnerabilidade nas urnas eletrônicas, segundo os investigados, poderia impactar negativamente em seus propósitos e diminuir a amplificação das notícias fraudulentas disseminadas pelo grupo criminoso e atrapalhar a manutenção da mobilização em frente aos quartéis do Exército, consideradas essenciais para o suporte da execução do golpe de Estado".
A investigação da PF apura uma organização criminosa que teria atuado para manter o então presidente Jair Bolsonaro no poder por meio de uma tentativa de golpe de Estado. Dentre as apurações, os policiais indicam que havia um plano golpista com o objetivo de prender os ministros do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), antes da posse do então eleito Luiz Inácio Lula da Silva.