Baptista Júnior é apontado como um dos comandantes militares que resistiram ao golpe de Estado
Cézar Feitoza | Folha de S.Paulo
Brasília - O ex-comandante da Aeronáutica Carlos de Almeida Baptista Júnior publicou nesta sexta-feira (9) texto em que diz não se iludir nem com "aqueles que julgava amigos e foram derrotados pelas suas ambições".
O tenente-brigadeiro do ar Carlos de Almeida Baptista Junior comandou a Força Aérea Brasileira no fim do governo Jair Bolsonaro - Marcelo Camargo/Agência Brasil |
O brigadeiro Baptista Júnior foi alvo de críticas do ex-ministro e general Braga Netto em conversas de WhatsApp obtidas pela Polícia Federal e reproduzidas na decisão de quinta (8) do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal).
Nas mensagens enviadas ao capitão expulso do Exército Ailton Barros, Braga Netto se referiu ao chefe da Aeronáutica como "traidor da pátria".
"Senta o pau no Batista Junior [sic]. Povo sofrendo, arbitrariedades sendo feita [sic] e ele fechado nas mordomias", escreveu Braga Netto, segundo a PF. "Traidor da pátria. Daí para frente. Inferniza a vida dele e da família."
Na sequência, o ex-ministro mandou uma série de memes depreciativos contra Baptista Júnior — comparando-o com o personagem Batista da "Escolinha do Professor Raimundo".
"‘A ambição derrota o caráter dos fracos. Aliás ... revela’. Já tendo passado dos 60 anos, não tenho mais o direito de me iludir com o ser humano, nem mesmo aqueles que julgava amigos e foram derrotados pelas suas ambições", escreveu o ex-comandante da Aeronáutica no X (ex-Twitter).
Braga Netto também manifestou irritação com o comandantes do Exército durante as discussões de um plano para reverter a derrota na eleição daquele ano.
Mensagens obtidas pela Polícia Federal que embasaram prisões e buscas nesta quinta-feira (8) mostram que Braga Netto teria chamado o então comandante do Exército, Marco Antônio Freire Gomes, de "cagão" por não aderir à tentativa de golpe.
Para a PF, as conversas "evidenciaram a participação e adesão" de Braga Netto numa tentativa de golpe de Estado. Os investigadores citam atuação do general "inclusive nas providências voltadas à incitação contra os membros das Forças Armadas que não estavam coadunadas aos intentos golpistas".
O ataque a Freire Gomes aparece em 14 de dezembro de 2022. Braga Netto, segundo os policiais, encaminha a Barros uma mensagem crítica ao que seria a omissão do comandante do Exército diante das pressões golpistas.
Em seguida, Ailton Barros diz que seria preciso "oferecer a cabeça" de Freire Gomes aos leões caso ele não aderisse ao golpe. Braga Netto responde: "Oferece a cabeça dele. Cagão".
No dia seguinte, Braga Netto estimula Ailton Barros a atacar o brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Júnior, comandante da Aeronáutica, e elogiar Almir Garnier Santos, comandante da Marinha. Garnier era, segundo as investigações, o único dos chefes das Forças Armadas que apoiava a tentativa de golpe.