A carta golpista, conforme publicado pela mídia conservadora, foi escrita pelo coronel Giovani Pasini e, posteriormente, editada pelo coronel Alexandre Castilho Bitencourt da Silva.
Correio do Brasil
Brasília - As investigações da Polícia Federal (PF) sobre a tentativa fracassada de um golpe de Estado, no 8 de Janeiro, revelam que ao menos dois militares da ativa participaram da redação de uma carta de oficiais que tinha como objetivo pressionar o Exército a aderir à tentativa de ruptura violenta do Estado democrático e de direito, no país. A informação consta em um trecho do relatório da PF, usado para deflagrar a Operação Tempus Veritatis.
Tropa de elite do Exército Brasileiro, os chamados 'kids pretos' teriam sido mobilizados para o golpe fracassado em 8 de Janeiro © Fornecido por Correio do Brasil |
A carta golpista, conforme publicado pela mídia conservadora, foi escrita pelo coronel Giovani Pasini e, posteriormente, editada pelo coronel Alexandre Castilho Bitencourt da Silva. O texto foi encontrado nos arquivos de Mauro Cid e data de 28 de novembro de 2022. A identificação dos autores foi feita pela PF usando os metadados do arquivo.
O texto produzido pela dupla tinha como alvo o general Marco Antônio Freire Gomes, que comandava o Exército naquele momento. A ideia era que o documento fosse assinado por um grande número de oficiais. Assim que começou a circular, o próprio Exército teria alertado aos fardados sobre os riscos de adesão ao movimento.
Mensagem
“Srs bom dia. Alertem aos seus subordinados que a adesão a esse tipo de iniciativa é inconcebível. Eventuais adesões de militares da ativa serão tratadas, no âmbito do Comando Militar do Sul (CMS), na forma da lei, sem contemporizações”, dizia uma mensagem assinada pelo general Fernando Soares para chefes de organizações militares, obtida e revelada pelo diário conservador paulistano Folha de S. Paulo, nesta sexta-feira.
O texto do documento golpista produzido pela dupla de coronéis pedia, entre outras coisas, que o Exército atuasse em uma ação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), tendo o mecanismo como papel constitucional da Força para garantir a preservação dos Poderes naquele momento. A GLO era vista por bolsonaristas como ponto fundamental para o golpe planejado.
Os oficiais alegavam no texto que estavam “sempre prontos para cumprir suas missões” e citavam ‘objetivos nacionais’ acima dos ‘interesses pessoais’. Em outro trecho, pediam ‘coragem’ aos soldados naquele momento. “Covardia, injustiça e fraqueza são os atributos mais abominados para um Soldado. Nossa nação, aquela que entrega os maiores índices de confiança às Forças Armadas, sabe que seus militares não a abandonarão”, mostra um trecho do documento.
Assinaturas
A carta pedia, ainda, que os comandantes tomassem iniciativas para o “imediato restabelecimento da lei e da ordem, preservando qualquer cidadão brasileiro a liberdade individual de expressar ideias e opiniões”. O contexto do pedido era ofertar uma proteção aos golpistas acampados em frente ao quartel do Exército.
Não é possível saber, contudo, quantos militares assinaram o texto, uma vez que o mecanismo de coleta de assinaturas não era transparente. Oficiais, no entanto, confirmaram ao jornal terem sido procurados no local de trabalho para aderirem aos pedidos do documento.
O coronel Giovani Pasini é oficial de artilharia da Academia Militar das Agulhas Negras, formado em 1997. É professor de colégios militares e autor de livros. Em 2022 foi candidato a deputado estadual do Rio Grande do Sul pelo partido Patriota, mas não conseguiu se eleger. Optou por ir então para a reserva em fevereiro de 2023.
Eo coronel Alexandre Bitencourt é oficial da arma de infantaria, também formado em 1997. Atualmente o oficial ocupa um cargo no Departamento-Geral de Pessoal do Exército.