Segundo incidente com um A-50 ocorreu sobre território russo; fogo amigo é o maior suspeito
Igor Gielow | Folha de S.Paulo
São Paulo - Pela segunda vez em pouco mais de um mês, as forças de Vladimir Putin perderam abatido um vital avião-radar Beriev A-50, o mais importante em operação na Força Aérea da Rússia, na Guerra da Ucrânia.
Um avião-radar Beriev A-50 igual ao que foi abatido nesta sexta sobre a Rússia - Alexander Zalmilanitchenko - 7.mai.2019/Pool/Reuters |
A nova derrubada ocorreu na noite desta sexta (23), tarde no Brasil. Diferentemente do incidente do dia 15 de janeiro, quando um A-50 foi derrubado sobre o mar de Azov por uma bateria antiaérea ucraniana, a maior suspeita no novo caso é de que o modelo foi vítima de fogo amigo.
De todo modo, o comandante da Força Aérea de Kiev, Mikola Olechtchuk, celebrou a derrubada no Telegram como se fosse um ato ucraniano.
O avião estava sobre a região de Kanevskoi, que fica em Krasnodar (sul russo) e é margeada pelo mar Negro. Imagens de rede social mostram a hora em que um ou mais mísseis antiaéreos disparados presumivelmente do noroeste atingem o aparelho. Flares, iscas incandescentes para desviar mísseis, são vistas saindo da aeronave.
Segundo canais militares russos e um analista consultado pela Folha em Moscou, tratava-se de um A-50 em patrulha. O GUR, serviço secreto militar da Ucrânia, assim como a Força Aérea do país, confirmou a queda, mas não a autoria.
O fogo veio da direção de Mariupol, a menos de 200 km de distância do outro lado do mar de Azov, o braço do mar Negro que banha a região.
Àquela distância da área controlada por Kiev de seu território, dificilmente algum sistema à disposição dos ucranianos poderia atingir o avião. Mariupol está em mãos russas desde o começo da guerra, que completa dois anos neste sábado (24).
É uma péssima notícia para Putin, que passa por uma fase de vantagem no conflito. Os A-50, dos quais a Rússia só tinha dez unidades antes do conflito, são considerados os aviões mais caros da frota russa, a R$ 1,5 bilhão a unidade.
Eles são vitais para coordenar os esforços da Força Aérea russa em toda a região, triangulando posições para ataques e alertando sobre riscos. De forma ainda mais crítica, não são armas que podem ser substituídas rapidamente — até porque têm tecnologia embarcada que depende de chips avançados do exterior, entre outras coisas.
Com a perda, há uma degradação das capacidades militares da Aeronáutica russa na região. O outro A-50 destruído na guerra havia sido abatido sobre o mar de Azov, mas a Ucrânia clamou responsabilidade por sua queda. Cada aeronave pode levar até 15 militares.
Antes, um desses aviões havia sido alvo de um drone de sabotadores em Belarus, mas não sofreu os danos propagandeados pelos rebeldes contrários à ditadura aliada da Rússia. Até agora, o Ministério da Defesa em Moscou não comentou o caso.