Líder colombiano foi a primeira autoridade internacional a se manifestar em defesa do presidente brasileiro; até terça, declarações tinham ficado restritas a autoridades israelenses e americanas
O Globo
O presidente da Bolívia, Luis Alberto Arce, o presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, e o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, saíram em defesa do presidente Lula frente à crise desatada com Israel por sua comparação da guerra em Gaza ao Holocausto. Arce e Díaz-Canel manifestaram "solidariedade" à classificação de Lula como persona non grata pelo Estado judeu, ao passo que Maduro endossou a comparação feita pelo presidente dos Brasil. As manifestações das lideranças da América Latina unem-se, poucas horas depois, à declaração do presidente colombiano, Gustavo Petro, o primeiro líder internacional a quebrar o silêncio global sobre a tensão entre os países.
O presidente Lula com o líder boliviano, Luis Arce, na esquerda, e com o líder cubano, Miguel Díaz-Canel — Foto: Ricardo Stuckert/Divulgação |
Em uma publicação no X (antigo Twitter), feita na segunda-feira, Arce expressou "solidariedade" e "apoio" a Lula, que foi declarado pessoa non grata pelo Estado judeu na segunda-feira, afirmando que a classificação ocorreu porque Lula disse "a verdade sobre o genocídio que é cometido contra o corajoso povo palestino".
"A história não perdoará aqueles que são indiferentes a esta barbárie", concluiu o líder colombiano.
"A história não perdoará aqueles que são indiferentes a esta barbárie", concluiu o líder colombiano.
Longe do poder e algoz de Arce, o ex-presidente boliviano Evo Morales já havia expressado seu apoio a Lula nas redes sociais. "A nossa solidariedade ao irmão Lula, injustamente declarado persona non grata, por defender a vida e a dignidade do povo palestino face ao genocídio em Gaza levado a cabo pelo Estado de Israel. Ser declarado persona non grata por um governo genocida que comete massacres contra crianças é um privilégio que reafirma o compromisso com a vida e a paz perante a comunidade internacional e os povos do mundo" disse Evo no X. Em novembro, La Paz rompeu as relações com Israel.
Díaz-Canel também prestou solidariedade ao presidente do Brasil em uma publicação no X. "Toda a nossa solidariedade vai para o querido irmão @LulaOficial, presidente do Brasil, declarado persona non grata em Israel pela sua sincera denúncia do extermínio da população palestina em #Gaza", escreveu o líder cubano, acrescentando: "Aplaudimos e admiramos sua bravura. Você sempre estará do lado certo da história."
Maduro, por sua vez, endossou o paralelo feito por Lula, afirmando que Hitler foi "um monstro criado pelas elites ocidentais". "O que estão fazendo, como disse o presidente Lula da Silva na reunião da União Africana, o que estão fazendo a partir do governo israelense é a mesma coisa que Hitler fez contra o povo judeu", afirmou o líder de Caracas em entrevista ao programa de TV "Con Maduro+".
As declarações dos presidentes da Bolívia e de Cuba somam-se à declaração de Petro, também no X. O colombiano escreveu: "Expresso minha total solidariedade ao presidente Lula do Brasil. Em Gaza há um genocídio e milhares de crianças, mulheres e idosos civis são covardemente assassinados. Lula só falou a verdade e defende-se a verdade ou a barbárie nos aniquilará", escreveu no X, acrescentando: "Toda a região deve unir-se para acabar imediatamente com a violência na Palestina. A decisão do Tribunal Internacional de Justiça sobre Israel deve gerar aplicação e consequências nas relações diplomáticas de todos os países do mundo."
A declaração de apoio era de certa forma esperada por parte de Petro. No ano passado, logo após o estouro do conflito entre Israel e o grupo terrorista Hamas, o presidente colombiano também usou uma referência ao regime nazista para comentar as ações do governo israelense no território palestino. Diante da crise, Israel chegou a suspender as exportações de material de defesa para a Colômbia, além de exigir um pedido de desculpas.
A atitude de Gustavo Petro, até aquele momento, era isolada no cenário global: desde o domingo, quando Lula fez as declarações, consideradas antissemitas por algumas organizações judaicas brasileiras, apenas Brasília e o próprio governo de Israel tinham se pronunciado. Não havia ocorrido outras declarações oficiais de apoio vindas de outros chefes de Estado, seja para condenar ou apoiar o líder brasileiro.
Para Mauricio Santoro, colaborador do Centro de Estudos Político-Estratégicos da Marinha, havia a expectativa que a Colômbia, que tem relações estremecidas com Israel, e cujo presidente é afeito a declarações no Twitter se pronunciasse. Contudo, ele considera ser "inimaginável que um governo da União Europeia ou EUA apoie Lula", por serem "governos pró-Israel, e para quem esse tema (Holocausto) é um tabu".
Também na terça, o porta-voz da Casa Branca, Matthew Miller, disse que o governo dos EUA "discorda" da fala de Lula, mas sem condenar a comparação com o Holocausto e centrando a crítica na acusação de genocídio. O secretário de Estado americano, Antony Blinken, se reunirá com Lula antes da reunião de chanceleres do G20.
— Obviamente nós discordamos desses comentários. Fomos bastantes claros que não acreditamos que um genocídio ocorreu em Gaza. Queremos ver o conflito encerrado quando for possível — disse Miller.
(Colaborou Filipe Barini)