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18 fevereiro 2024

‘Kids pretos’ são suspeitos de usar tática militar e de serem elo para financiar tentativa de golpe sob Bolsonaro

A participação, segundo a PF, seria estratégica: eles compõem um grupo restrito, com treinamento rígido e especialização em ações de infiltração, operações camufladas e contraterrorismo


Por Sarah Teófilo e Eduardo Gonçalves | O Globo

Brasília - A Polícia Federal investiga se integrantes das Forças Especiais do Exército, os “kids pretos”, usaram técnicas militares para incitar a tentativa de golpe de Estado no país. A participação, segundo a PF, seria estratégica: eles compõem um grupo restrito, com treinamento rígido e especialização em ações de infiltração, operações camufladas e contraterrorismo. Provas colhidas no inquérito indicam que representantes do grupo de elite direcionaram os atos antidemocráticos que ocorreram após a derrota eleitoral de Jair Bolsonaro e atuaram como elo para o financiamento dos ataques.

Kids pretos é o nome dado aos militares formados pelo Curso de Operações Especiais do Exército Brasileiro, treinados para atuar em missões sigilosas e em ambientes hostis e politicamente sensíveis — Foto: Divulgação / Exército Brasileiro

Oficiais das “FE”, como também são conhecidos, estiveram em reuniões que tinham o intuito de delinear estratégias para a ofensiva golpista, segundo a PF. Nos ataques de 8 de janeiro, chamou a atenção de investigadores a presença de manifestantes com balaclavas, vestimenta dos “kids pretos”, e desenvoltura na linha de frente da invasão. Um grupo organizou uma ofensiva para furar o bloqueio da Polícia Militar, orientou manifestantes a entrar no Congresso pelo teto, transformando gradis em escadas, e os instruiu a acionar mangueiras para diminuir os efeitos das bombas. Destroços de uma granada de gás lacrimogêneo usada em treinamentos dos “kids pretos” foram encontrados, segundo a CPI dos Atos.

O apelido, segundo o Exército, é um nome informal atribuído aos militares de operações especiais, por usarem um gorro preto. Nos livros de história militar, o termo faz referência ao codinome utilizado para definir o comandante da unidade que combateu guerrilheiros do Araguaia.

'Kids pretos' são treinados para atuar em missões sigilosas


Para integrar as forças especiais, o interessado precisa ser sargento ou oficial e fazer cursos de paraquedista, por seis semanas, e de “ações de comandos”, que dura quatro meses e é a etapa mais dura. Um exercício comum é ficar em ambientes fechados com gás lacrimogêneo sem máscara. Restrições de sono e de alimentação também integram a rotina, além de testes físicos.

Há ainda uma terceira fase com foco estratégico. Um exemplo de ação desta etapa, que leva cinco meses, é a infiltração em outro estado por meio de salto de paraquedas para, em simulações, cumprir determinada missão, como o resgate de um refém.

— Fazemos adaptação em todos os ambientes. É uma tropa altamente preparada — afirma o coronel da reserva Roberto Criscuoli, ex-subcomandante do Batalhão de Forças Especiais.

Segundo ele, um membro deste grupo consegue capacitar uma tropa convencional para tarefas de alto grau de complexidade. A investigação da PF apreendeu uma mensagem dizendo que integrantes das forças especiais têm “capacidade de organizar, desenvolver, instruir, equipar e operar 1.500 homens”.

Os “kids pretos” também já atuaram em operações de grande porte, como a missão no Haiti, e eventos como a Copa do Mundo — neste último caso, dedicados a evitar ataques terroristas. O efetivo é reduzido: a maior parte fica no 1º Batalhão de Forças Especiais, em Goiânia. O Exército não informa a quantidade exata, mas estimativas apontam para 400 militares. Há, ainda, a 3ª Companhia de Forças Especiais, em Manaus, com cerca de 150 integrantes. No governo, Bolsonaro cercou-se de ex-integrantes do grupo, como Eduardo Pazuello e Luiz Eduardo Ramos, que foram ministros, e Élcio Franco, ex-secretário-executivo da Saúde.

— O treinamento é voltado para agir em situações em que se está relativamente desplugado da cadeia de comando. Isso é feito para ações camufladas, sigilosas, e que exigem, por exemplo, um alto grau de infiltração, com técnicas de inteligência militar e operações psicológicas — diz o professor da UFSCar Piero Leirner.

Em relatório, a PF afirmou que houve um “planejamento minucioso para utilizar, contra o próprio Estado brasileiro, as técnicas militares para a consumação do golpe de Estado”. A conclusão parte de uma troca de mensagens em que o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, e o coronel Bernardo Romão Correa Neto, combinam encontros com integrantes das forças especiais em novembro de 2022. O objetivo seria refinar o planejamento e ampliar, entre os militares, a adesão à trama golpista. “Só chamamos os FE”, escreveu Correa Neto a Cid. O advogado do ex-ajudante de ordens afirmou que não teve acesso aos autos. A defesa de Correa Neto não foi localizada, enquanto a de Bolsonaro diz que ele não atacou a democracia.

“Houve por parte do grupo criminoso organização de encontro específico na tentativa de arregimentar militares com curso de Forças Especiais, que, segundo a Polícia Federal, coadunados com os intentos golpistas, dariam suporte às medidas necessárias para tentar impedir a posse do governo eleito e restringir o exercício do Poder Judiciário”, afirmou o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), na decisão que autorizou a operação contra Bolsonaro e aliados.

Repasse e monitoramento


Outro “kid preto” envolvido na articulação golpista, segundo a PF, é o major Rafael Martins de Oliveira. Mensagens mostram que, em novembro de 2022, ele e Cid discutiram o pagamento de R$ 100 mil para custear a ida de manifestantes a Brasília. A defesa dele não foi localizada.

Em nota, o Exército disse que colabora com as investigações e que as forças especiais são empregadas apenas por ordem do comando do Exército, “sempre com base em um arcabouço legal”.

A trama golpista envolvia também acionar os kids pretos para prender autoridades, entre elas Moraes, depois que Bolsonaro assinasse decreto abrindo caminho para a ruptura. O magistrado foi monitorado pelo coronel Marcelo Câmara, ex-assessor de Bolsonaro e egresso das Forças Especiais. Como o plano não foi colocado em prática, a PF apura se os “kids pretos” foram escalados para uma outra missão: provocar um fator desestabilizador que levasse Bolsonaro a decretar uma Garantia da Lei e da Ordem (GLO)”. A defesa de Câmara disse que ele sempre atuou “de forma legítima e com instrumentos lícitos”.

No ponto mais alto da ofensiva golpista, o 8 de Janeiro, a presença de um “kid preto” foi desvendada: a do general da reserva Ridauto Fernandes, que já comandou ações de operações especiais e três GLOs. Em setembro do ano passado, ele foi alvo de mandados de busca e apreensão. À PF, o militar confirmou que foi ao ato, mas disse que não participou da depredação. Fernandes não se manifestou.

RAIO-X


Quem são


Integrantes das Forças Especiais do Exército, os "kids pretos” compõem um grupo restrito do Exército, com treinamento rígido que prevê técnicas de infiltração, operações camufladas e formação para contraterrorismo e contraguerrilha.

Onde ficam


A maior parte fica no 1º Batalhão de Forças Especiais, em Goiânia e são subordinados ao Comando Militar do Planalto. Há ainda a 3ª Companhia de Forças Especiais, em Manaus

Efetivo


O Exército não informa a quantidade exata, mas estimativas extraoficiais apontam para cerca de 550 “kids pretos” no país.

Formação e treinamento


Precisa ser sargento ou oficial e fazer cursos de paraquedista, por seis semanas, e de “ações de comandos”, que dura quatro meses e é a etapa mais exigente. Os militares passam por restrição de sono e de alimento, enquanto são submetidos a fortes treinamentos físicos. Há ainda uma terceira fase, com foco estratégico, que leva cinco meses.

NA MIRA DA PF


A Polícia Federal investiga se os "kids pretos" usaram técnicas militares para incitar e orientar participantes dos atos antidemocráticos e se atuaram como elo para o financiamento das ações.

Prisão de autoridades


O plano golpista, segundo a PF, envolvia acioná-los para realizar a prisão de autoridades, entre elas o ministro Alexandre de Moraes, do STF, que foi monitorado pelo ex-assessor presidencial Marcelo Câmara, ex-integrante das Forças Especiais.

Desestabilização


A PF apura também se os “kids pretos” foram escalados para provocar um fato desestabilizador que levasse o presidente da República a decretar uma Garantia da Lei e da Ordem (GLO), abrindo caminho para os militares tomarem o poder.

Financiamento


A investigação apura ainda se o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, atuou para organizar reuniões com os "kids pretos e para financiá-los". Uma mensagem apreendida na operação cita uma ajuda financeira de R$ 100 mil.

Plano golpista


Na decisão que autorizou a operação Tempus Veritatis, da PF, Moraes aponta o general Estevam Theophilo, comandante de Operações Terrestres (Coter), como responsável operacional pelo emprego dos "kids pretos" caso o plano golpista se concretizasse.

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