Bagdá iniciou conversações formais com Washington em janeiro sobre uma "retirada faseada" das forças dos EUA do Iraque em meio a repetidas violações da soberania do país, inclusive após os ataques dos EUA a milícias antiterroristas aliadas do governo que lutam contra o Daesh (grupo terrorista proibido na Rússia e em diversos países).
Sputnik
O conselheiro de segurança nacional do Iraque, Qasim al-Araji, anunciou que foi atingido um consenso entre todas as principais facções políticas do Iraque sobre o fim da presença da coligação militar liderada pelos EUA no país do Oriente Médio.
© AFP 2023 / Hadi Mizban |
"Há um consenso sobre a retirada das forças estrangeiras. O governo iraquiano vai assinar acordos bilaterais de segurança com os países que fazem parte da coligação contra o grupo terrorista Daesh", disse al-Araji à margem da Conferência de Diálogo Internacional de Bagdá, no sábado (24).
"As nossas forças de segurança se desenvolveram muito e ganharam grande experiência em lidar com os desafios do terrorismo", assegurou al-Araji, dando a entender que a missão dos EUA de "treinar, aconselhar e ajudar" no Iraque, que substituiu a sua missão de combate no final de 2021, é não é mais necessária.
O Conselho de Segurança Nacional do Iraque, liderado por al-Araji, é um órgão poderoso encarregado de coordenar a segurança nacional, a inteligência e a estratégia de política externa do país, e reporta diretamente ao primeiro-ministro Mohammed Shia al-Sudani.
As bases dos EUA no Iraque e os seus postos avançados ilegais na Síria foram alvo de intensos ataques de foguetes, mísseis e drones por milícias a partir de meados de outubro de 2023, em resposta ao apoio persistente de Washington a Israel após o início da guerra em Gaza.
Os EUA responderam aos ataques alvejando milícias estreitamente afiliadas às forças de segurança do Iraque, como no dia 4 de janeiro, matando Mushtaq Talib al-Saidi, o líder da milícia Harakat-al-Nujaba, afiliada às Forças de Mobilização Popular, levando as autoridades iraquianas a exigem negociações sobre o fim da presença dos EUA no país. O Ministério das Relações Exteriores do Iraque classificou a morte de al-Saidi como um "ataque não provocado a um órgão de segurança iraquiano que opera de acordo com os poderes que lhe foram concedidos pelo comandante-em-chefe das Forças Armadas" e chamou a agressão de "escalada perigosa" à qual Bagdá se reserva o direito de responder.
Washington irritou ainda mais os seus homólogos iraquianos ao mentir aos meios de comunicação social sobre ter avisado Bagdá antes dos seus ataques, com o porta-voz do Departamento de Estado, John Kirby, admitindo no início de fevereiro que os EUA só de fato "informaram os iraquianos imediatamente após a ocorrência dos ataques".
A agressão do mês passado não é a primeira em que os militares dos EUA atuam unilateralmente dentro do Iraque sem informar os seus "parceiros" iraquianos. Em janeiro de 2020, os EUA assassinaram o vice-comandante das Forças de Mobilização Popular do Iraque, Abu Mahdi al-Muhandis, junto com o comandante da Força Quads do Corpo de Guardiões da Revolução Islâmica Iraniana, Qassem Soleimani, em um ataque não provocado de drones no Aeroporto Internacional de Bagdá. Esse incidente levou o parlamento do Iraque a emitir uma resolução exigindo que todas as forças dos EUA fossem expulsas imediatamente do país, mas Washington resistiu, reclassificando a sua presença no país como uma missão de "treinar, aconselhar e ajudar".
Na vizinha Síria, que também enfrentou ataques dos EUA contra combatentes antiterroristas, o Ministério das Relações Exteriores disse que "não ficou nem um pouco surpreso" ao ver as forças norte-americanas atacarem alvos no leste do país, "onde nossas forças estão lutando contra os remanescentes da organização terrorista Daesh, enquanto os Estados Unidos trabalham para restabelecer a atividade terrorista do Daesh."
As forças dos EUA mantêm o controle sobre a parte nordeste da Síria, ocupando as áreas mais ricas em petróleo e alimentos, roubando recursos que o país devastado pela guerra durante uma década — guerra alimentada pela CIA — necessita para completar sua reconstrução.