General foi interrompido pelo então presidente Jair Bolsonaro, que pediu que não prosseguisse com sua observação e que posteriormente conversassem em particular
Teo Cury | CNN
Brasília - O general Augusto Heleno, então ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência, afirmou, em reunião comandada por Jair Bolsonaro (PL), ter conversado com um diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para infiltrar agentes nas campanhas eleitorais de 2022.
A reunião aconteceu em julho de 2022 e fora convocada por Bolsonaro, de acordo com a Polícia Federal. Um vídeo da reunião foi encontrado no computador do tenente-coronel Mauro Cid, ajudante de ordens de Bolsonaro durante o governo.
A PF afirmou, em representação ao Supremo Tribunal Federal (STF), que Heleno disse ter conversado com o diretor-adjunto da Abin Victor Felismino Carneiro para infiltrar agentes nas campanhas eleitorais. O general, de acordo com a PF, advertiu, na sequência, sobre o risco de se identificarem os agentes infiltrados.
“Nesse momento, o então Presidente Jair Bolsonaro, possivelmente verificando o risco em evidenciar os atos praticados por servidores da Abin, interrompe a fala do ministro, determinando que ele não prossiga em sua observação, e que posteriormente ‘conversem em particular’ sobre o que a Abin estaria fazendo”, diz a PF.
Após ser interrompido pelo então presidente, Heleno afirmou que “se tiver que virar a mesa é antes das eleições”. O general, um dos principais conselheiros de Bolsonaro, disse ainda que era necessário “agir contra determinadas instituições e contra determinadas pessoas”.
Os investigadores da PF sustentam que a fala do então ministro evidencia a necessidade de os órgãos de Estado vinculados ao governo federal atuarem para assegurar a vitória de Bolsonaro.
A PF aponta que Heleno integrava, juntamente com Marcelo Costa Câmara e Mauro Cid, o núcleo de inteligência paralela, responsável pela coleta de dados e informações que pudessem auxiliar a tomada de decisões de Bolsonaro “na consumação do golpe de Estado”.
O grupo, segundo os investigadores, teria monitorado o itinerário, o deslocamento e a localização do ministro Alexandre de Moraes, do STF e do Tribunal Superior Eleitoral, e de possíveis outras autoridades da República, “com o objetivo de captura e detenção, nas primeiras horas que se seguissem à assinatura do decreto de golpe de Estado”.