O evento ocorre até quinta-feira (22) no Rio de Janeiro. Como presidente temporário do grupo, o Brasil escolheu os temas prioritários para serem discutidos ao longo do ano.
Por g1
O ministro Mauro Vieira (Relações Exteriores) abriu nesta quarta-feira (21) o encontro de chanceleres do G20, o grupo das maiores economias do mundo.
Mauro Vieira durante encontro de ministros do G20 no Rio de Janeiro, em 21 de fevereiro de 2023 — Foto: Ricardo Moraes/Reuters |
O ministro afirmou que o Brasil não não aceita um mundo em que as diferenças sejam resolvidas pela força militar e disse que a ONU está paralisada.
"Nossas posições sobre os casos ora em discussão no G20, em particular a situação na Ucrânia e na Palestina, são bem conhecidas e foram apresentadas publicamente nos foros apropriados, como o Conselho de Segurança da ONU e a Assembleia Geral da ONU", disse ele.
Vieira discursou na abertura do evento, que ocorre até quinta-feira (22) no Rio de Janeiro.
O ministro também criticou o orçamento militar e comparou com o dinheiro que é gasto com assistência: "Não é minimamente razoável que o mundo ultrapasse - e muito – a marca de US$ 2 trilhões em gastos militares a cada ano. A título de comparação, os programas de ajuda da Assistência Oficial ao Desenvolvimento permanecem estagnados em torno de US$ 60 bilhões por ano – menos de 3% dos gastos militares".
Faltam ações concretas para resolver problemas de desigualdade e mudanças climáticas, que ameaças existenciais, segundo ele.
Vieira disse que "os casos bem-sucedidos de cooperação pacífica da América Latina, África, Sudeste Asiático e Oceania fazem com que as vozes dessas regiões devam ser ouvidas nos foros relevantes com especial cuidado e atenção".
No fim pediu, ele pediu para que os paises rejeitem publicamente "o uso da força, a intimidação, as sanções unilaterais, a espionagem, a manipulação em massa de mídias sociais e quaisquer outras medidas incompatíveis com o espírito e as regras do multilateralismo como meio de lidar com as relações internacionais".
Encontro no Rio de Janeiro
A chegada de ministros das Relações Exteriores das maiores economias do mundo coincide com uma crise entre Brasil e Israel. O começo se deu quando o presidente Lula comparou a ofensiva israelense na Faixa de Gaza, no conflito com o Hamas, ao Holocausto. Israel reagiu, exigiu desculpas e declarou Lula "persona non grata".
O principal tema do encontro, segundo o Itamaraty, será a reforma de organismos multilaterais, como a Organização das Nações Unidas (ONU).
Também serão debatidos o combate à fome e a transição energética — essa será uma prévia da cúpula com participação dos chefes de estado do G20, a ser realizada em 18 e 19 de novembro, também no Rio.
Entre outros, estão no evento desta quarta-feira Anthony Blinken, secretário de Estado do governo Joe Biden, dos Estados Unidos, e Sergei Lavrov, da Rússia. Veja abaixo a lista completa dos representantes presentes no encontro.
Nesta quarta (20), a Casa Branca responsabilizou a Rússia pela morte de Alexei Navalny, líder da oposição morto na sexta-feira (16) em uma prisão na Sibéria.
Blinken se encontrou com o presidente Lula e, depois da reunião do G20, vai a Buenos Aires para um encontro com Javier Milei, da Argentina. Lavrov esteve em Cuba e na Venezuela antes de chegar ao Brasil.
O G20 não é uma instituição como a ONU ou a Organização Mundial do Comércio, que têm secretariado. Na prática, é um grupo de diálogo. Ao país que preside temporariamente o G20, cabe receber os representantes de outros países, organizar as reuniões e pautar as discussões.
O Brasil preside desde 1º de dezembro de 2023 o G20. O mandato vai até 30 de novembro deste ano.
Tema: reforma da ONU, FMI e Banco Mundial
Como presidente temporário do grupo, o Brasil escolheu três temas prioritários para serem discutidos ao longo do ano. Os temas são os seguintes:
- Combate à fome, à pobreza e às desigualdades.
- Transição energética e enfrentamento às mudanças climáticas.
- Reformas das instituições multilaterais.
Como o tema da reforma das instituições é pertinente às Relações Exteriores, e o encontro desta semana no Rio é de ministros desta pasta, esse deverá ser o principal tema a ser debatido.
O presidente Lula (PT) tem repetido em seus discursos que considera que é preciso reformar instituições como a ONU, o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial.
Em sua visita recente à Etiópia ele voltou a citar o tema. Segundo ele, a ONU não tem “dado conta” de resolver os problemas. “Os membros do Conselho de Segurança são os maiores produtores de armas. São os que detêm as armas nucleares. São os que têm direito de veto, e são os que não cumprem nada porque não se submetem ao próprio Conselho de Segurança", afirmou o presidente.
Ele também fez críticas ao desempenho atual do FMI e Banco Mundial: "[Essas entidades] vão servir para financiar desenvolvimento dos países pobres ou vão continuar existindo para sufocar os países pobres?".
Tema não é novo
O tema da reforma de instituições como a ONU não é novo, diz Victor do Prado, conselheiro consultivo internacional do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI) e ex-diretor do Conselho e do Comitê de Negociações Comerciais da OMC.
"Essa é uma agenda que 'peregrina', porque ela vai e volta. O que as pessoas querem é que a ideia [de uma reforma] não morra, mas o ambiente internacional para que isso tenha uma chance de ser concretizado é desfavorável. Veja, por exemplo, o Conselho de Segurança da ONU. Estão lá EUA, China e Rússia, três países que têm dificuldades para chegar a acordos", diz ele.
Prado diz que nos anos 1990, após a queda do Muro de Berlim, o ambiente internacional era mais propício para uma mudança desses órgãos.
Para ele, faz sentido manter o debate aceso, mas de uma maneira realista. "No fundo, como o Brasil não tem poder militar nem nuclear, depende de 'soft power', o que se adquire com credibilidade no discurso e nas ações, e nos últimos dias o Brasil teve um revés nesse aspecto", disse ele, referindo-se à fala do presidente Lula ao comparar a ação militar de Israel na Faixa de Gaza com o Holocausto.
Estão presentes os seguintes representantes:
- Brasil - Mauro Vieira (Ministro das Relações Exteriores)
- Índia - Vellamvelly Muraleedharan (Ministro de Estado das Relações Exteriores)
- África do Sul - Naledi Pandor (Ministra das Relações Exteriores)
- União Africana - Albert M. Muchanga (Comissário de Comércio e Indústria)
- Argentina - Diana Mondino (Ministra das Relações Exteriores)
- Austrália - Katy Gallagher (Ministra das Finanças, Ministra das Mulheres, Ministra do Serviço Público)
- Canadá - Mélanie Joly (Ministra das Relações Exteriores)
- China - Ma Zhaoxu (Vice-Ministro Executivo das Relações Exteriores)
- União Europeia - Josep Borrell (Alto Representante da União Europeia)
- França - Stéphane Séjourné (Ministro das Relações Exteriores)
- Alemanha - Annalena Baerbock (Ministra das Relações Exteriores)
- Indonésia - Retno Lestari Priansari Marsudi (Ministra das Relações Exteriores)
- Itália - Edmondo Cirielli (Vice-Ministro das Relações Exteriores)
- Japão - Yōko Kamikawa (Ministra das Relações Exteriores)
- México - Alicia Bárcena (Ministra das Relações Exteriores)
- Coreia do Sul - Cho Tae-yul (Ministro das Relações Exteriores)
- Rússia - Sergey Lavrov (Ministro das Relações Exteriores)
- Arábia Saudita - Faisal bin Farhan Al-Saud (Ministro das Relações Exteriores)
- Turquia - Hakan Fidan (Ministro das Relações Exteriores)
- Reino Unido - David Cameron (Secretário de Estado das Relações Exteriores)
- EUA - Antony Blinken (Secretário de Estado)
O G20 é formado pelos seguintes membros:
- África do Sul;
- Alemanha;
- Arábia Saudita;
- Argentina;
- Austrália;
- Brasil;
- Canadá;
- China;
- Coreia do Sul;
- Estados Unidos;
- França;
- Índia;
- Indonésia;
- Itália;
- Japão;
- México;
- Reino Unido;
- Rússia;
- Turquia;
- União Europeia;
- União Africana.