Mensagem foi enviada pelo então ajudante de ordens de Bolsonaro a um oficial do Exército no RS, que se mostrou preocupado com desmonte da estrutura.
Por Andréia Sadi, Reynaldo Turollo Jr | g1
Na investigação que resultou na Operação Tempus Veritatis ("hora da verdade", em latim), a Polícia Federal (PF) destacou mensagens do tenente-coronel Mauro Cid, à época ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL) na Presidência, que demonstram "anuência de militares com manifestações antidemocráticas" na frente de quartéis.
Mauro Cid durante depoimento na CPI dos Atos Golpistas — Foto: Geraldo Magela/Agência Senado |
Em resposta a um oficial do Exército que disse estar preocupado com uma recomendação do Ministério Público Federal, Cid orientou seu interlocutor a ignorar o órgão.
O procurador da República Fabiano de Moraes havia recomendado que fosse desmontada a estrutura usada por manifestantes golpistas que acampavam em frente a uma unidade do Exército em Caxias do Sul (RS).
"Cara, vou ser bem sincero contigo. Tá recomendado... manda se foder! Recomenda... está recomendado. Obrigado pela recomendação (...) Eles [o MPF] não podem multar. Eles não podem prender. Eles não podem fazer porra nenhuma. Só vão encher o saco. Mas não vão fazer nada, não", disse Cid em áudio transcrito pela PF e obtido pelo blog.
O áudio foi enviado ao tenente-coronel Alex de Araújo Rodrigues, à época subcomandante do 3º Grupo de Artilharia Antiaérea. Ele pediu ajuda a Cid porque, em suas palavras, "o MPF está colocando a gente contra a parede".
Rodrigues chegou a compartilhar com Cid o texto da recomendação feita pelos procuradores de Caxias do Sul. O documento recomendava à unidade militar que fossem adotadas providências para retirar banheiros químicos, tendas e barracas usadas pelo manifestantes, que estavam ocupando uma área da União.
O MPF dizia, na recomendação, que a ocupação da área militar ocorria "de forma permanente e indevida, por manifestantes que incitam animosidade das Forças Armadas contra os poderes constituídos".
Diante da resposta de Cid, Rodrigues pede para o então ajudante de ordens avisar "Alves" sobre a orientação, pois esse estaria "desesperado" com a iniciativa do MPF. Segundo a PF, "Alves" seria o tenente-coronel Anderson dos Santos Alves, comandante do 3º Grupo de Artilharia Antiaérea.
Segundo a investigação, a conversa entre Cid e Rodrigues é um dos elementos que demonstram que militares anuíram com os acampamentos golpistas — de onde, posteriormente, saíram os manifestantes que depredaram as sedes dos Três Poderes no 8 de janeiro de 2023, no caso de Brasília.