Viagem à Brasília previa um encontro com o alto comando. Mas Correa Neto fez reunião golpista de kids pretos com Cid.
Paulo Motoryn | Intercept Brasil
O coronel Berardo Romão Correa Neto foi preso por articular uma reunião de caráter golpista em Brasília entre militares das Forças Especiais do Exército, os kids pretos, e o ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid. Para o encontro, que aconteceu em novembro de 2022, Correa Neto fez uma viagem de caráter “urgente” entre o Rio de Janeiro em Brasília – com passagens e diárias custeadas pelo Exército.
Oficialmente, de acordo com o Portal da Transparência, Correa Neto esteve na capital federal entre 26 de novembro e 1º de dezembro de 2022 para participar da 347ª Reunião do Alto-Comando do Exército, a RACE – ainda que o encontro reúna só generais de quatro estrelas e o comandante do Exército.
Em resposta ao Intercept, o Exército negou que Correa Neto tenha participado da RACE. “O evento é vedado aos integantes do Alto Comando do Exército”, disse a instituição, por meio de sua assessoria de imprensa, sem justificar a razão da viagem. Depois da publicação da reportagem, o Exército afirmou que Correa Neto viajou à Brasília como assistente do oficial-general de Exército do Comando Militar do Sul, mas que não entrou na sala da reunião.
Segundo as investigações da Polícia Federal que revelaram a trama do golpe, no período em que esteve na capital federal, Correa Neto organizou uma reunião no salão de festas de um bloco residencial da Asa Norte. Nela, foi elaborada uma carta para pressionar o comandante do Exército e outros militares a aderirem ou não se posicionarem contra a tentativa de golpe. Cid esteve presente no encontro.
O pedido de prisão, formulado pela PF, teve concordância da Procuradoria-Geral da República. A investigação encontrou diálogos de Mauro Cid com Correa Neto, à época no Comando Militar do Sul, que indicam que o coronel intermediou o convite para uma reunião no dia 28 de novembro de 2022, em Brasília.
Na ocasião, ele “selecionou apenas oficiais formados no curso de forças especiais (kids pretos), providos, pois, de técnicas militares úteis para a consumação do golpe de Estado, e assistentes dos generais supostamente aliados”, segundo as apurações.
A PGR afirmou que “a investigação identificou que Correa Neto agia como homem de confiança de Mauro Cid, executando tarefas fora do Palácio da Alvorada que o então Ajudante de Ordens da Presidência da República não conseguiria desempenhar”.
Na última quinta-feira, 8, Correa Neto e outros três investigados na Operação Tempus Veritatis tiveram a prisão preventiva decretada pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF. Como estava nos Estados Unidos, onde foi enviada pelo Exército para fazer um curso – também custeado pelos cofres públicos –, ele não foi preso na semana passada.
Correa Neto só desembarcou em Brasília na madrugada de domingo, 11, e finalmente foi preso pela Polícia Federal. Em seguida, o militar foi entregue à Polícia do Exército para ficar sob custódia da instituição no Batalhão da Guarda Presidencial, em Brasília.