A rápida deterioração diplomática entre Brasil e Israel causada por uma fala do Presidente Lula, que comparou a ação israelense em Gaza à dos nazistas no Holocausto, pode afetar dois grandes projetos da Força Aérea Brasileira.
Por Carlos Martins | AeroIn
Durante visita à África, o Presidente Lula disse que “o que está acontecendo na Faixa de Gaza e com o povo palestino não existe em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu: quando o Hitler resolveu matar os judeus”, em uma referência ao Holocausto, quando a Alemanha Nazista comandou uma política de controle, perseguição, desarmamento e depois execução sumária da comunidade judaica no país, além de outras minorias como negros e ciganos.
Foto – FAB |
Esta política só ficou amplamente conhecida quando os aliados, dos quais inclusive o Brasil era parte importante, libertaram os campos de concentração e encontraram vários judeus no “corredor da morte”.
A fala de Lula repercutiu de maneira bastante negativa em Israel, com duras críticas vindas de Benjamin Netanyahu, Primeiro-Ministro do país, seguidas de uma reunião com o embaixador brasileiro em Tel Aviv no Museu do Holocausto. Por fim, Lula foi declarado Persona Non Grata pelos israelenses e o embaixador brasileiro deverá sair do país em breve.
Enquanto a crise principal está no lado político, ela pode ter impactos diretos no setor aeronáutico: os dois maiores projetos da FAB são dependentes de tecnologia israelense.
Apesar de ainda não ter chegado neste ponto, outro país que rompeu relações com Israel foi a Colômbia, que não receberá mais apoio logístico para a frota de caças Kfir, fabricados pela Israel Aerospace Industries (IAI).
Com isso, nos próximos meses, os colombianos podem ficar sem caça operacional, já que a decisão para um novo avião (que pode ser o F-16 da Lockheed Martin ou o Gripen da SAAB) ainda não tem data para ser feita, e mesmo que fosse hoje, a entrega irá demorar alguns anos.
Inclusive a escolha do Gripen na Colômbia pode ser impactada pelas decisões do presidente Gustavo Petro, assim como de Lula. O principal ponto envolve a AEL Sistemas, que é uma subsidiária da israelense Elbit Systems e tem 25% de participação da Embraer.
A AEL é responsável por fazer o grande display do caça Gripen da FAB, que é uma tela horizontal que reúne todas as informações para o piloto, desde display primário de voo até sistemas de armas.
Além disso, a AEL fabrica a suíte eletrônica do cargueiro Embraer KC-390, incluindo os Computadores de Missão, Sistemas de Autoproteção e Contramedidas SPS e DIRCM, respectivamente, o HUD (Head-Up Display) e o EVS (Enhanced Vision System).
Outros projetos da companhia na FAB incluem os aviônicos do C-95M Bandeirante e P-95M Bandeirulha, do avião de ataque AMX A-1M, do caça F-5M, do A-29 Super Tucano, além do helicóptero Airbus H125 Fennec e blindado Guarani do Exército.
Uma retaliação mais dura, a título de exemplo da IAI com o Kfir na Colômbia, poderia vir com atraso nos projetos tocados pela AEL e também sanções, de maneira similar que a Alemanha fez no Guarani, e que acabou sendo contornada.
Outro ponto importante é que todos os veículos aéreos não tripulados do Brasil, ou VANTs, que é o termo técnico para drones militares, também são fabricados pela Elbit e pela IAI, que pode deixar o país sem essa ferramenta de inteligência tão essencial no combate moderno.
Ainda é cedo para qualquer afirmação categórica sobre o assunto, mas ambas as partes não parecem querer ceder no atrito e uma “desescalada” das tensões não é prevista tão cedo.