Israel está pronto para interromper seus ataques em Gaza durante o mês sagrado muçulmano do Ramadã em um cessar-fogo que pode ser assinado já na próxima semana, afirmou Joe Biden, embora autoridades do Hamas tenham dito que os comentários do presidente dos Estados Unidos foram prematuros, enquanto estuda uma oferta de trégua.
Por Samia Nakhoul, Jeff Mason e Nidal al-Mughrabi | Reuters
DUBAI/WASHINGTON/CAIRO - Os comentários de Biden, gravados na segunda-feira e transmitidos após a meia-noite de terça-feira, foram feitos no momento em que os negociadores tentam fechar o primeiro acordo de trégua prolongada em uma guerra que devasta a Faixa de Gaza desde outubro do ano passado.
Joe Biden | Reuters |
"O Ramadã está chegando, e os israelenses concordaram em não realizar atividades durante o Ramadã, para nos dar tempo de retirar todos os reféns", disse Biden no programa "Late Night with Seth Meyers", da NBC.
Mais cedo na segunda-feira, Biden declarou que esperava que um acordo de cessar-fogo fosse firmado até segunda-feira, 4 de março. O Ramadã está previsto para começar em 10 de março.
"Meu conselheiro de segurança nacional me disse que eles estão próximos. Eles estão perto. Ainda não terminaram. Minha esperança é que até a próxima segunda-feira tenhamos um cessar-fogo", afirmou Biden.
O Hamas está analisando uma proposta acordada em uma reunião em Paris, na semana passada, entre Israel, Estados Unidos e mediadores do Egito e do Catar, o mais sério esforço para um cessar-fogo desde que a última trégua foi interrompida após uma semana em novembro.
Duas autoridades de alto escalão do Hamas disseram que os comentários de Biden sugerindo que o acordo já havia sido alcançado em princípio eram prematuros.
Ainda há "grandes lacunas a serem preenchidas", disse um representante do Hamas à Reuters. "As questões primárias e principais do cessar-fogo e da retirada das forças israelenses não estão claramente definidas, o que atrasa a obtenção de um acordo."
Uma fonte sênior próxima às negociações afirmou à Reuters que o esboço da proposta enviada ao Hamas previa uma trégua de 40 dias, durante a qual o Hamas libertaria cerca de 40 reféns - incluindo mulheres, menores de 19 anos ou maiores de 50 anos e doentes - em troca de cerca de 400 palestinos detidos em uma proporção de 10 por um.
Israel reposicionaria suas tropas fora das áreas assentadas. Os moradores de Gaza, com exceção dos homens em idade de combate, teriam permissão para voltar para casa, para áreas anteriormente esvaziadas, e a ajuda seria aumentada, incluindo equipamentos urgentes para abrigar os deslocados.
Mas a oferta parece não atender às principais exigências do Hamas em negociações anteriores - que um cessar-fogo inclua um compromisso para o fim permanente da guerra e a retirada israelense.
Também não abrange a libertação de reféns israelenses que sejam soldados ou homens saudáveis em idade de lutar, ou uma exigência do Hamas de que até 1.500 detentos sejam libertados.
Delegações do Hamas e de Israel estão no Catar esta semana discutindo os detalhes do cessar-fogo.
MUITOS INOCENTES MORTOS, DIZ BIDEN
Biden disse à NBC que Israel corre o risco de perder o apoio internacional, a menos que tome mais medidas para poupar os civis. Israel ameaçou atacar Rafah, a última cidade no extremo sul da Faixa de Gaza, onde mais da metade de seus 2,3 milhões de habitantes estão encurralados, a maioria dormindo em barracas improvisadas ou em prédios públicos.
"Há pessoas inocentes demais sendo mortas e Israel diminuiu os ataques em Rafah", declarou Biden, acrescentando que Israel havia se comprometido a possibilitar a retirada dos palestinos de Rafah antes de intensificar sua campanha no local.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, rejeitou como "ilusória" uma contraoferta anterior do Hamas para um cessar-fogo durante o qual todos os reféns seriam libertados, Israel retiraria suas tropas de Gaza e se chegaria a um acordo sobre o fim da guerra.
Ele afirma que não interromperá a guerra até que o Hamas seja erradicado.
Na segunda-feira, Netanyahu repetiu sua descrição das exigências do Hamas como "de outro planeta" e disse que caberia ao grupo decidir se aceitaria a última oferta de Israel.
Na NBC, Biden disse que um cessar-fogo temporário daria início a um processo para que os palestinos tivessem seu próprio Estado. Netanyahu rejeita um Estado palestino independente por considerá-lo incompatível com a necessidade de Israel de controle total da segurança de todas as terras entre o rio Jordão e o Mar Mediterrâneo.
O Hamas matou 1.200 pessoas e capturou 253 reféns em 7 de outubro, de acordo com os registros israelenses, desencadeando um ataque terrestre em Gaza, com quase 30.000 pessoas confirmadas como mortas, segundo autoridades de saúde de Gaza.