A guerra em Gaza continuará ao longo de 2024, garantiu Israel, que segue bombardeando o enclave palestino, três meses depois do ataque de 7 de outubro. O Exército anuncia que os seus reservistas em breve farão uma pausa na guerra, a fim de se prepararem para combates prolongados. São 360 mil no total, além do Exército regular, mas, neste contexto, alguns israelenses se recusam a se alistar.
RFI
A guerra de longa duração entre Israel e o Hamas exige a rotação de tropas armadas e, em particular, de reservistas israelenses. No entanto, alguns destes jovens estão se recusando a participar. É o caso de Sofia Orr, uma das vozes da juventude israelense, que pede o fim do conflito. Ela mora em Pardes Hanna-Karkur, ao norte de Tel Aviv.
Soldados israelenses carregam um caixão, no funeral do sargento Lavi Ghasi, de 19 anos, morto no norte de Gaza durante operação terrestre, em 21 de dezembro de 2023. REUTERS - VIOLETA SANTOS MOURA |
Sofia tem 18 anos, idade suficiente para ingressar no Exército. No entanto, ao ser convocada, ela não pestanejou. “Em fevereiro, eu me recusei a servir o Exército israelense e, por isso, irei para a prisão militar", afirmou à RFI.
A jovem é uma das figuras do movimento “Mesarvote”, um grupo antimilitar que hoje conta com várias dezenas de membros. “A maioria das pessoas neste país tem esse espírito militar, que apoia o Exército, seja o que for que aconteça, e isso, claro, inclui entes queridos. Às vezes me chamam de traidora ou de judia raivosa. É muito difícil”, confidencia.
“Devemos fazer a paz”
Seu rosto tornou-se público, assim como o de seu amigo Tal Mitnick, o primeiro a se recusar a cumprir o serviço militar desde 7 de outubro. Ele foi condenado na semana passada a uma pena inicial de um mês de detenção.
“Você pode ter isenção, fazer com calma e não ser humilhado publicamente por isso. Mas isso não é uma opção para mim. Sinto que tenho que falar sobre isso publicamente e tentar causar o máximo de impacto possível”, garante Sofia Orr.
Desde então, ela tem repetido incansavelmente. “A violência extremista do Hamas não pode ser combatida com mais violência. Quero fazer parte da solução e não do problema. É preciso fazer a paz, não há outras opções”, finaliza a jovem.
Entrada “numa nova fase” da guerra
Cinco brigadas israelenses serão em breve retiradas ou redistribuídas. Os reservistas também farão uma pausa para se prepararem para o “combate prolongado”, informou o Exército de Israel. Para David Rigoulet-Roze, pesquisador associado do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas e editor-chefe da revista “Orient Stratégique”, este anúncio do Exército indica que a guerra entra “em uma nova fase".
“Segundo as declarações das Forças Armadas de Israel, trata-se de uma redistribuição com o objetivo de lhes permitir retomar o seu trabalho, portanto há uma lógica econômica e, passo a citar o Exército israelense: 'Estamos planejando a gestão das forças que operam no terreno, examinando o sistema de reservas, a economia, a renovação das forças e a continuação dos processos de treinamento de combate dentro das Forças Armadas.' Então, existe um sistema de rodízio que hoje funciona, o que mostra que estamos entrando em uma nova fase. Isso já foi mencionado diversas vezes", disse o especialista.
“A primeira fase seria a dos bombardeios massivos, a segunda da operação terrestre e a terceira fase seria de menor intensidade, particularmente no norte de Gaza. Isto corresponderia aos pedidos americanos, em particular de Jake Sullivan, conselheiro de Segurança de Joe Biden, que esperava, a partir de janeiro, que houvesse efetivamente operações de menor intensidade. Mas isso não significa mudança de estratégia, faz mais parte de um planejamento de longo prazo”, analisa o pesquisador.
Impacto econômico e orçamental para Israel
Como salienta David Rigoulet-Roze, as razões para esta retirada dos reservistas israelenses podem ser estratégicas, mas também econômicas. “Foram mobilizados 360 mil reservistas, o que representa entre 10 e 15% da força de trabalho israelense, especialmente nas pequenas e médias empresas. Esta é a essência da estrutura econômica. Há, portanto, um claro impacto econômico. Há também um impacto orçamental, com um déficit que rondará os 8%. Mas, além disso, também podemos nos questionar sobre as modalidades de redistribuição. Alguns levantam a possibilidade de que unidades sejam realocadas no norte do país, com potencial abertura de uma frente, na fronteira com o Líbano”, explica.