Na madrugada desta segunda-feira (8), 59 mísseis e drones foram lançados pela Rússia contra a Ucrânia, de acordo com Kiev. Ao mesmo tempo, e pela primeira vez desde o início do conflito, o Kremlin ordenou a centenas de habitantes para deixarem Belgorod, cidade de 350.000 habitantes, que foi alvo de bombardeios ucranianos. Apesar disso, para especialista, os ataques a localidades próximas à fronteira não devem mudar o rumo da guerra.
RFI
Ao menos quatro pessoas morreram e 38 ficaram feridas “em ataques massivos russos” em várias cidades da Ucrânia, de acordo com a polícia ucraniana nesta segunda-feira.
Rússia retira centenas de Belgorod, mas para especialista ataques da Ucrânia 'não devem mudar guerra' © REUTERS - STRINGER |
A Ucrânia também teria bombardeado a cidade russa de Lemeshovka, na região de Briansk, próxima da fronteira com a Ucrânia, de acordo com Alexandre Bogomaz, governador da região no Telegram. “Mais de 10 mísseis caíram em alvos civis. Não há vítimas”, escreveu.
Na tarde desta segunda-feira, ele afirmou, na mesma rede social, que as forças russas abateram dois drones ucranianos na mesma região, na localidade de Klimovsky.
O governador de Belgorod, Viatcheslav Gladkov, afirmou que 300 moradores tinham aceitado serem “retirados provisoriamente” da cidade, e realocados em zonas longe da fronteira.
Na sexta-feira (5), o responsável propôs ajuda às pessoas que desejassem abandonar a cidade, alvo de bombardeios ucranianos que se intensificaram.
A medida é inédita para uma grande cidade na Rússia e contradiz os esforços do Kremlin, que insiste que o conflito não afeta diretamente o cotidiano e a segurança dos cidadãos russos.
Mas a estratégia foi ameaçada, após os ataques ucranianos a Belgorod que fizeram 25 mortos em 30 de dezembro, o maior número de vítimas civis do lado russo desde o começo da ofensiva de Moscou em 24 de fevereiro de 2022.
Estratégia russa
A pesquisadora Carole Grimeau, especialista em geopolítica pós-soviética e fundadora do Center for Russia and Eastern Europe Research, em Genebra, lembra que outras cidades russas são potenciais alvos da Ucrânia e que a Crimeia é regularmente atacada.
Mas a estratégia não deve permitir a Kiev realizar ganhos territoriais, insiste a especialista. “Por outro lado, uma pressão sobre as forças russas, a pressão psicológica sobre a população russa atacando cidades com a vítimas civis, uma pressão importante sobre a população russa, que paga o fato de seu presidente lançar essa guerra, então psicologicamente é importante”, diz. “Isso mostra também que a Ucrânia é capaz de represálias quando é atacada”, diz.
Apesar de a Ucrânia ter demonstrado que pode atacar alvos russos, os rumos da guerra não devem mudar por isso, analisa Grimeau.
“Isso não mudará a estratégia da Rússia sobre a Ucrânia e não vai fazê-la parar. Eu temo, infelizmente, que a população vítima destes ataques ucranianos terá pouco peso e não mudará o contexto geral da guerra”, diz.
Além disso, ataques a populações que vivem na fronteira não têm tanto impacto para a opinião publica russa como um ataque a Moscou. A mídia russa falou pouco sobre os ataques de drones ucranianos para não alarmar a população.