A transportadora marítima Maersk está desviando todos os seus navios de contêineres do Mar Vermelho para rotas ao redor do Cabo da Boa Esperança, sem previsão de retorno, alertando clientes que se preparem para problemas significativos nos serviços, enquanto a concorrente Hapag Lloyd reportou um grande aumento nos custos por causa da mudança de percurso.
Por Jacob Gronholt-Pedersen | Reuters
COPENHAGUE - Transportadoras de todo o mundo estão evitando o Mar Vermelho — a rota mais curta entre a Ásia e a Europa, por meio do Canal de Suez — depois que grupos houthis no Iêmen, apoiados pelo Irã, intensificaram ataques contra embarcações na região do Golfo Pérsico, para mostrar apoio ao grupo palestino Hamas.
A viagem ao redor da África adiciona cerca de dez dias ao trajeto, gasta mais combustível e exige mais tempo de tripulação, aumentando os custos de frete.
A dinamarquesa Maersk < MAERSKb.CO> afirmou nesta semana que pausaria todas as embarcações com rota pelo Mar Vermelho, após um de seus navios ter sido atacado por houthis, e desde então redirecionou as embarcações para que deem a volta na África.
“A situação está evoluindo constantemente e permanece altamente volátil, e todas as informações disponíveis confirmam que o risco de segurança continua muito elevado”, disse a Maersk em comunicado nesta sexta-feira.
Como resultado, a empresa, que controla um sexto do comércio mundial de contêineres, desviará todas as embarcações para o Cabo da Boa Esperança “no futuro próximo”.
A novidade aumenta o temor sobre problemas mais alongados na entrega de bens que vão de roupas a carros, mesmo depois dos Estados Unidos terem lançado uma operação em 19 de dezembro para proteger o fluxo de navios no Mar Vermelho.
Grupos houthis atacaram um navio da Maersk em 1º de janeiro, no Mar Vermelho, e tentaram invadir a embarcação. A Índia está escoltando navios de contêineres indianos nas regiões próximas ao local.
A Hapag Lloyd teve custos adicionais de dois dígitos de milhões de euros entre 18 e 31 de dezembro pelo desvio de 25 embarcações, afirmou à Reuters um porta-voz da empresa nesta sexta-feira.
O Canal de Suez é usado por praticamente um terço dos navios de contêineres do mundo, e dar a volta no sul da África aumenta o custo de combustível em 1 milhão de dólares para cada ida e volta entre a Ásia e o Norte da Europa.
O problema logístico, contudo, foi positivo para as ações das transportadoras, que foram as que mais subiram na Europa desde o começo do ano, com investidores apostando que o aumento das tarifas de frete trará ganhos financeiros às companhias.
Por outro lado, custos maiores também trouxeram temores sobre um repique na inflação, particularmente na zona do euro.
Nesta sexta-feira, a Goldman Sachs aumentou sua previsão para o núcleo de inflação de maio na zona do euro para 2,3%, ante 2,2% anteriores, por causa dos custos do frete.
“Nossos analistas esperam que o choque não seja tão ruim ou prolongado quanto o de 2020 a 2022, devido à maior oferta de navios, e sem congestionamento nos portos por conta de lockdowns”, afirmou a Goldman Sachs, comparando o atual problema com os tempos de pandemia.