Regimes militares continuam no poder no Mali, no Níger e no Burkina Faso. Por que motivo a Alemanha ainda quer continuar ativa na região do Sahel e que prioridades devem ser definidas?
Por Nikolas Fischer | Deutsch Welle
A Alemanha deve definir uma estratégia futura para o Sahel, dizem analistas. A região do Sahel é de grande importância para a Alemanha. No ano passado, a ministra alemã dos Negócios Estrangeiros, Annalena Baerbock, explicou porquê: "Queiramos ou não, o que acontece no Sahel diz-nos respeito."
Mali, dezembro de 2023: Soldados hasteiam a bandeira alemã em Gao © Nana Ehlers/Bundeswehr/dpa/picture alliance |
A chefe da diplomacia alertou, então, para o risco de mais terroristas serem treinados no Sahel, para o número crescente de pessoas que fogem para a Europa devido à seca e à falta de perspetivas e para a necessidade de contrabalançar a crescente influência russa naquela região.
No Mali, por exemplo, o regime militar que tomou o poder neste país, em 2021, depende mais da cooperação com a Rússia do que com os parceiros europeus. Atualmente, os mercenários russos do grupo Wagner apoiam o exército maliano, que luta contra os terroristas islamistas e os separatistas.
Mas não foi só a França, antiga potência colonial, que teve de abandonar o país. Toda a missão de manutenção da paz da ONU (MINUSMA) foi extinta por insistência dos detentores do poder. Após mais de dez anos, os últimos soldados alemães saíram do Mali no final de 2023.
Novos parceiros
Após estes acontecimentos no Mali, a Alemanha optou por novos parceiros na região. Mas no Níger, ainda descrito como um "parceiro fiável" pelo ministro da Defesa da Alemanha, os militares também deram um golpe de Estado, no final de julho do ano passado.
A ajuda alemã ao desenvolvimento foi congelada. Em dezembro, o Níger anunciou o fim da missão militar e civil da União Europeia (UE). No mesmo dia, o líder da junta militar, Abdourahamane Tiani, recebeu oficiais militares russos e chegou a um acordo para estreitar a cooperação.
Malte Lierl, membro do Instituto alemão de Estudos Africanos-GIGA, explica que "a estratégia de segurança europeia original para o Sahel falhou. Talvez não tenha sido errado correr riscos, mas sempre existou a possibilidade de o governo do Níger ser substituído por um golpe de Estado."
Por isso, debate-se um realinhamento da política da Alemanha no Sahel. Em termos de cooperação para o desenvolvimento, o país europeu está ativo no Sahel desde os anos 60. A cooperação com os atores locais e da sociedade civil foi estabelecida de acordo com o princípio de "longe do Governo, mas perto da população".
E existe margem suficiente para alargar ainda mais este compromisso. Isto poderia criar empregos na agricultura, construção e infraestruturas e reforçar os sistemas de segurança social. É o que argumenta Julian Bergmann, especialista em relações União Europeia-África no Instituto Alemão de Desenvolvimento e Sustentabilidade (IDOS), em Bona, na Alemanha. "Conhecemos os parceiros com quem podemos trabalhar e também sabemos como intensificar ainda mais este trabalho", lembra.
Até agora, a Alemanha teria confiado demasiado numa parceria com governos cujo apoio da população há muito que tinha diminuído", diz Malte Lierl, especialista do GIGA. De certa forma, isso tornou-se parte do problema.
Lições para o futuro
Para o futuro, diz que é preciso tirar lições para que os projetos políticos sejam também apoiados pelas sociedades locais: "A lição para o futuro deve ser que aquilo que fazemos nesses países em termos de política de desenvolvimento, política de segurança e política externa também deve ser apoiado pelas sociedades."
"Deve ser capaz de obter o apoio da maioria nesses países. Isto significa também que temos de explicar as nossas políticas, justificá-las perante as sociedades e estar abertos à crítica. Não foi o que aconteceu no passado", considera Malte Lierl.
Uma reorientação da política alemã para o Sahel inclui também um foco ainda mais forte em toda a região, explica Julian Bergmann. Com a iniciativa "Sahel Plus", o governo alemão está a intensificar a cooperação com países vizinhos como o Senegal, a Costa do Marfim, o Gana, o Togo e o Benim.
"Esta é uma estratégia melhor do que se concentrar num único Estado da região, mas sim procurar temas específicos e oportunidades específicas de cooperação com os vários actores, Estados individuais, mas também organizações regionais. Incluindo a cooperação com organizações regionais como a União Africana e a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO)", conclui Bergmann.