O Exército israelense enfrenta o Hezbollah na divisa com o Líbano desde o dia 8 de outubro e ameaça transformar “Beirute em Gaza” caso o grupo, aliado do Hamas, não se retire da fronteira. Os hospitais do país já começam a se preparar para um conflito com Israel.
Laure Stephan | RFI
Beirute - Na sala de emergência do hospital particular Hammoud, em Saida, no sul do Líbano, os enfermeiros verificam os estoques farmacêuticos. A medida, de rotina, foi reforçada diante do risco de expansão do conflito em Gaza para o país e a necessidade de implantar práticas de medicina de guerra.
Enfermeiros atendem jornalista ferido em bombardeios bombardements na cidade de Alma al-Shaab na fronteira com Israel, em outubro AP - Hassan Ammar |
"Estamos preparando nossos estoques para seis meses, preparando todos os nossos médicos, nossa equipe e nossas salas de cirurgia. A equipe foi treinada para lidar com o fluxo de vítimas, fazer a triagem e tratar pacientes feridos, para estar pronta, a qualquer momento, se tivermos que lidar com essa situação”, explica o chefe do setor de emergência, Samer Saadé.
A unidade de emergência, que funciona nos arredores de Beirute, foi ativada em outubro no ano passado. "Estamos com medo, ficamos lembrando de 2006. Porque em 2006, durante a guerra, Israel bombardeou as pontes, o que isolou as áreas. Caso isso aconteça, temos que ter cuidado e tornar nossos hospitais seguros, sob todos os pontos de vista", explica Wahida Ghalayni, enfermeira e coordenadora.
Para isso, é preciso gerenciar a autonomia dos estoques de água ou óleo que abastecem os geradores elétricos. As organizações humanitárias fornecem apoio com treinamento e equipamentos, já que o colapso econômico enfraqueceu o setor de saúde libanês. Enfrentar uma nova guerra seria um baque para o país.
"Nossos hospitais, ao longo dos últimos anos, mostraram uma certa resiliência, apesar de tudo. A guerra seria um problema a mais. Em uma situação como essa, a intervenção de parceiros seria mais do que necessária. Seria indispensável, já que os recursos seriam, sem dúvida, usados massivamente e teriam que ser substituídos", explica Laetitia Nemouche, coordenadora de saúde do Comitê Internacional da Cruz Vermelha no Líbano.
Tensão palpável
Apesar da aparente normalidade, o clima de tensão no estabelecimento é palpável e esconde o medo de um novo conflito com Israel. "Estamos começando a sentir que a situação está se tornando mais perigosa, não sabemos o que vai acontecer. Vemos muitos pacientes em pânico, vemos como eles se preparam para a possibilidade de uma guerra ou de uma situação crítica”, diz Samer Sadé.
Apesar da deterioração econômica, Wahida Ghalayni, membro da unidade de crise, está convencida de que enfermeiros e médicos não vão desertar o estabelecimento em caso de guerra, e já se prontificaram a ajudar. O desenrolar dos acontecimentos, entretanto, continua sendo imprevisível.