As grandes perdas de civis são o custo da intensa ofensiva de Israel para destruir o Hamas na Faixa de Gaza e da estratégia de guerra urbana dos militantes, disseram militares israelenses, em resposta ao clamor global por conta das mortes causadas pelos bombardeios.
Por Frank Jack Daniel | Reuters
BASE AÉREA DE PALMACHIM, Israel - Nas últimas dez semanas, Israel jogou milhares de toneladas de bombas sobre o enclave, deixando o território no Mar Mediterrâneo em ruínas e matando quase 20 mil pessoas, muitas soterradas sob edifícios que desabaram, de acordo com autoridades de Gaza. Outras 50 mil pessoas ficaram feridas, com quase nenhuma instalação de saúde em funcionamento.
Palestinos examinam moradias destruídas em ataque israelense em Khan Younis, na Faixa de Gaza 27/11/2023 REUTERS/Mohammed Salem |
Falando com repórteres na Base Aérea de Palmachim, a 45 quilômetros da Faixa de Gaza, na segunda-feira, dois oficiais disseram que Israel calcula que o custo em vidas civis de cada ataque foi equilibrado com a vantagem militar obtida.
O principal objetivo de guerra de Israel é desmantelar as capacidades militares do Hamas e impedir mais ataques depois que militantes islâmicos mataram 1.200 pessoas, a maioria civis, e tomaram muitos reféns em uma ação que abalou o Estado judaico.
Mas a perda de vidas no enclave palestino erodiu o apoio mundial a Israel após dez semanas de derramamento de sangue, e o país enfrenta pressão crescente para arrefecer sua ofensiva. O secretário de Defesa dos Estados Unidos, Lloyd Austin, pediu na segunda-feira que seu colega israelense reduza o dano aos civis.
França, Reino Unido e Alemanha também pediram um cessar-fogo no domingo, enquanto o presidente norte-americano, Joe Biden, chamou os bombardeios de “indiscriminados” na semana passada.
Em um exemplo da perda de vidas civis na Faixa de Gaza, um ataque matou 19 pessoas de duas famílias locais durante o sono, em casa, na cidade de Rafah, no sul do enclave, nesta terça-feira. Entre os mortos, estão mulheres, crianças e dois bebês, disseram autoridades de Saúde de Gaza. A bomba deixou uma grande cratera e escombros onde antes se erigia um prédio.
“Nunca vimos tais armas. Nasci em 1950. Nunca vi nada como isto”, afirmou Mohammed Zurub, cuja família perdeu 11 pessoas em um ataque, que ele chamou de “ato bárbaro”.
Questionada sobre o ataque, as Forças de Defesa de Israel (IDF) afirmaram que tomaram as precauções possíveis para mitigar os danos civis, de acordo com as leis internacionais.
Ghazi Hama, uma autoridade do Hamas, afirmou no domingo que Israel estava “indiscriminadamente bombardeando escolas e barracas que abrigavam centenas de milhares de pessoas desabrigadas e hospitais, protegidos pela lei humanitária internacional”.
Uma das autoridades, um conselheiro legal das IDF, disse que os hospitais se tornaram um alvo militar legítimo ao serem usados por combatentes. O Hamas nega estar operando em infraestruturas civis como hospitais e escolas.
Ao lado de Austin, o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, disse que as forças de seu país operam legalmente “para minimizar os danos à população civil”.
“É realmente trágico que os ataques resultem em um alto número de baixas civis”, disse o oficial, em conversas com jornalistas na base costeira, de onde drones militares cinzas partem para suas missões de bombardeio.
Yagil Levy, especialista em relações civis-militares da Universidade Aberta de Israel, calculou a taxa de mortes de civis na guerra em cerca de 61% em outubro, quase o dobro dos conflitos anteriores em Gaza. Ele disse que isso poderia indicar que as regras de engajamento estão sendo interpretadas de forma mais flexível para minimizar o risco para as forças terrestres israelenses “ao infligir mais mortes ao outro lado”.
Muitos dos 2,3 milhões de habitantes da Faixa de Gaza deixaram suas casas várias vezes por causa de instruções de Israel, para evitar ataques. As ordens vieram em panfletos, no rádio e nas redes sociais.