Os Estados Unidos afirmaram nesta quinta-feira que irão realizar operações aéreas na Guiana, com base em seu envolvimento rotineiro, conforme Reino Unido e Brasil expressavam preocupação com as crescentes tensões na fronteira entre a Guiana e a Venezuela.
Reuters
BOGOTÁ - A longa disputa pela região de Essequibo, rica em petróleo, que está sendo julgada pela Corte Internacional de Justiça (CIJ), aumentou no fim de semana quando os eleitores venezuelanos rejeitaram a jurisdição da CIJ e apoiaram a criação de um novo Estado venezuelano.
Membro da Assembleia Nacional da Venezuela segura um mapa que mostra a disputada região de Essequibo como parte da Venezuela 06/12/2023 REUTERS/Leonardo Fernandez Viloria |
A Guiana questionou a legitimidade da votação, colocou suas Forças Armadas em alerta máximo e disse que o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, está desrespeitando as determinações da CIJ de não tomar nenhuma medida para mudar o status quo em Essequibo.
Os comentários de Maduro sobre a autorização da exploração de petróleo na área atraíram a ira do presidente da Guiana, Irfaan Ali, que procurou tranquilizar os investidores, como a Exxon, que têm grandes projetos na costa da Guiana.
O Ministério das Relações Exteriores do Reino Unido disse nas mídias sociais que as medidas recentes da Venezuela eram preocupantes, "injustificadas e devem cessar".
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que estava acompanhando os acontecimentos com crescente preocupação e sugeriu que os órgãos multilaterais deveriam contribuir para uma solução pacífica e que o Brasil poderia sediar conversações.
"Se tem uma coisa que não queremos na América do Sul é guerra, não precisamos de conflito", disse Lula.
A inteligência do Exército brasileiro detectou um aumento da presença das Forças Armadas venezuelanas perto da fronteira com a Guiana, de acordo com uma fonte militar sênior.
O Comando Sul dos EUA, que fornece cooperação de segurança na América Latina, realizará operações aéreas com os militares guianenses na Guiana na quinta-feira, informou a embaixada dos EUA em Georgetown em um comunicado.
"Esse exercício se baseia no engajamento e nas operações de rotina para aprimorar a parceria de segurança entre os Estados Unidos e a Guiana, e para fortalecer a cooperação regional", afirmou.
O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, conversou com Ali na noite de quarta-feira e reafirmou o apoio inabalável dos EUA à soberania da Guiana, informou o Departamento de Estado.
Analistas e fontes em Caracas disseram que o referendo foi um esforço de Maduro para mostrar força e medir o apoio de seu governo antes da eleição de 2024, em vez de representar uma probabilidade real de ação militar.
O governo de Maduro prendeu na quarta-feira Roberto Abdul, da oposição, por suposta traição relacionada ao referendo e disse que também há mandados de prisão para três membros da equipe da campanha da candidata presidencial da oposição Maria Corina Machado.
Um advogado do partido de Machado disse que a equipe sempre agiu corretamente.
Um porta-voz do Departamento de Estado dos EUA disse que estava ciente das ordens de prisão e "monitorando de perto a situação".
(Reportagem de Julia Symmes Cobb em Bogotá e Matt Spetalnick em Washington; reportagem adicional de Ricardo Brito em Brasília)