Depois da Rússia, agora é a vez da Ucrânia ter dificuldades de recrutar soldados. Devido à falta de novos recrutas, muitos militares não puderam voltar para casa durante as festas de fim de ano, o que não ajuda a melhorar a motivação das tropas. Para aumentar recrutamentos, Kiev lança uma lei controvertida que coloca em atrito membros do governo e causa desconfiança em uma população cansada da guerra.
RFI
Kiev está longe da empolgação do início da guerra, com milhares de homens que se apresentaram espontaneamente para ingressar no Exército.
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Com dificuldades de recrutar novos soldados, governo da Ucrânia lança lei controversa© REUTERS - THOMAS PETER |
Uma volta do ânimo inicial foi observada, mas em menor medida, no começo da contraofensiva ucraniana, no terceiro trimestre deste ano. Mas a situação não durou, pelo contrário, muitos homens agora fazem tudo para não lutar.
No front, os soldados esgotados pedem para serem substituídos, como Oleksandr, mobilizado a alguns quilômetros do front, perto de Avdiivka.
"Faltam homens e saúde. Quanto tempo poderemos aguentar? Os homens não são feitos de ferro", explica Oleksandre à rádio France Inter.
Volodymyr Zelensky anunciou, na semana passada, que o Estado-Maior quer mobilizar entre 450 mil e 500 mil homens adicionais.
O governo está sob pressão e, para conseguir recrutar, caça as dispensas fraudulentas, os falsos atestados médicos e os contrabandistas que, por € 6 mil ou € 7 mil, ajudam os possíveis voluntários a fugir do país.
Nos restaurantes chiques da capital Kiev, oficiais encarregados do recrutamento fazem controles e verificam se os homens presentes, com idade para serem mobilizados, estão efetivamente inscritos no serviço militar. Caso contrário, são levados imediatamente para serem cadastrados.
Na quarta-feira (27) o Coronel Yevhen Mejevikin, um oficial respeitado, disse que se a Ucrânia não se mobilizasse o suficiente, simplesmente arriscaria uma derrota militar antes do final de 2024. Mejevikin afirmou que entendia os receios da população com relação ao recrutamento militar e que o desafio para o governo era ganhar a confiança da população falando a verdade.
Lei para redefinir regras
No entanto, o governo Zelensky está fazendo exatamente o contrário. O presidente submeteu ao Parlamento, na segunda-feira (25), durante o Natal, para evitar qualquer discussão pública, uma lei que altera as condições de recrutamento.
O projeto de lei não está disponível na íntegra no site da Rada, o Parlamento ucraniano. Apenas informações sucintas, como a ideia de baixar a idade de recrutamento de 27 para 25 anos, de acabar com os gabinetes de recrutamento e de enviar cartas de mobilização por e-mail, foram disponibilizadas.
A imprecisão também é grande sobre a mobilização das mulheres. Na semana passada, o ministro da Defesa, Rustem Umerov, falou da mobilização dos ucranianos que moram fora do país, mas os assessores de imprensa do governo recuaram, enviando sinais contraditórios.
A imprensa ucraniana soube que o partido do presidente, Servidor do Povo, pediu a todos os seus deputados que não comentassem nos veículos de comunicação a lei de mobilização, mas que encaminhassem todas as questões ao comando militar.
Na terça-feira (26), em uma rara entrevista coletiva, o chefe do Exército da Ucrânia, Valeri Zaloujny, desobedeceu às ordens e expressou frustração com o trabalho dos escritórios de recrutamento militar.
A publicação da lei também causou polêmica nas redes sociais. A reforma do recrutamento militar é um tema altamente sensível para uma população que se tornou desconfiada, uma vez que a guerra já dura quase dois anos, sem fim à vista no horizonte.