Forças de Tel Aviv dizem ter conquistado quase completamente norte do território palestino
Reuters via Folha de S.Paulo
Cairo e Jerusalém - Um ataque aéreo de Israel matou 76 membros de uma mesma família em Gaza, informaram autoridades de resgate neste sábado (23), um dia depois de as Nações Unidas alertarem novamente que nenhum lugar é seguro no território palestino.
O ataque a um prédio na Cidade de Gaza na sexta-feira (22) foi um dos mais mortais da guerra entre Israel e Hamas até agora, disse Mahmoud Bassal, porta-voz do departamento de Defesa Civil de Gaza.
Ele forneceu uma lista parcial dos nomes dos mortos, com 16 membros da família al-Mughrabi, e disse que as vítimas incluem mulheres e crianças. As afirmações não puderam ser verificadas de forma independente.
Entre os mortos estão Issam al-Mughrabi, um funcionário veterano do Programa de Desenvolvimento da ONU, sua esposa e seus cinco filhos. "A perda de Issam e sua família nos afetou profundamente. A ONU e os civis em Gaza não são alvos", disse Achim Steiner, administrador do Pnud, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. "Essa guerra deve acabar."
Também na sexta, um ataque de Israel pulverizou a casa de Mohammed Khalifa, um jornalista de TV local, em Nuseirat, tirando sua vida e matando pelo menos outras 14 pessoas, segundo funcionários do vizinho Hospital dos Mártires de Al-Aqsa, para onde os corpos foram levados. Pessoas em luto fizeram orações fúnebres no pátio do hospital, enquanto equipes de resgate continuavam a procurar sobreviventes.
Mas o número de vítimas foi ainda maior. Ao todo, segundo o Ministério de Saúde palestino, controlado pelo Hamas, menos 201 palestinos morreram e 368 ficaram feridos em ataques em Gaza em 24 horas.
A luta do Exército de Israel contra os militantes do Hamas continuou neste sábado — o objetivo de Tel Aviv é controlar totalmente o norte de Gaza. Uma espessa fumaça pairava sobre a cidade de Jabalia, onde fica o maior campo de refugiados de Gaza, e os moradores relataram tanto bombardeios aéreos quanto de tanques, que eles disseram terem se movido mais para dentro da cidade.
O braço armado do Hamas, as Brigadas Al-Qassam, afirmou ter destruído cinco tanques israelenses na área, matando e ferindo suas tripulações, depois de reutilizar dois mísseis não detonados lançados anteriormente por Israel.
Na sexta, um porta-voz chefe militar de Israel afirmou que suas forças haviam alcançado quase o controle completo do norte de Gaza e estavam se preparando para expandir a ofensiva terrestre para outras áreas da Faixa, com foco na região sul.
Embora Israel alerte os residentes para abandonarem as áreas do norte do território, as suas forças também têm bombardeado alvos nas partes centro e sul. "Para onde devemos ir? Não há lugar seguro", disse Ziad, médico e pai de seis filhos, à agência de notícias Reuters por telefone. "Eles pedem às pessoas que se dirijam para [a cidade central de Gaza] Deir Al-Balah, onde bombardeiam dia e noite."
O conflito se espalhou para além de Gaza e incluiu o mar Vermelho, onde os rebeldes houthis do Iêmen, aliados do Irã, têm alvejado navios com mísseis e drones em retaliação aos ataques de Israel à Faixa de Gaza. O governo do Hamas no território palestino tem o apoio de Teerã.
Neste sábado, um navio mercante afiliado a Israel no mar Arábico, na costa oeste da Índia, foi atingido por um veículo aéreo não tripulado, causando um incêndio, informou a empresa britânica de segurança marítima Ambrey.
Enquanto isso, um comandante da Guarda Revolucionária Iraniana disse que o mar Mediterrâneo poderia ser fechado se os Estados Unidos e os seus aliados continuassem a cometer "crimes" em Gaza, sem explicar como isso aconteceria, informou a imprensa iraniana.
Depois de dias de disputas para evitar uma ameaça de veto dos EUA, o Conselho de Segurança da ONU aprovou na sexta uma resolução pedindo medidas para permitir acesso humanitário seguro e desimpedido a Gaza, além de condições para o cessar dos combates.
Contudo, a resolução foi atenuada em relação aos rascunhos anteriores, que pediam o fim imediato da guerra que já dura 11 semanas.