As forças israelenses chegaram ao portão do principal hospital da Cidade de Gaza nesta segunda-feira, o alvo mais importante em sua batalha para assumir o controle da metade norte da Faixa de Gaza, onde os médicos disseram que os pacientes, incluindo bebês recém-nascidos, estavam morrendo por falta de combustível.
Por Nidal al-Mughrabi e Dan Williams | Reuters
GAZA/JERUSALÉM - Havia também uma nova preocupação de que a guerra pudesse se espalhar para além de Gaza, com um aumento dos confrontos na fronteira norte de Israel com o Líbano e com os Estados Unidos lançando ataques aéreos contra alvos de milícias ligadas ao Irã na vizinha Síria.
Tanque israelense em local divulgado como Gaza (Foto: ISRAEL DEFENSE FORCES/Divulgação via REUTERS) |
Israel lançou sua campanha no mês passado para aniquilar o Hamas, o grupo militante que governa a Faixa de Gaza, depois que os combatentes da organização invadiram o sul do país e mataram civis. Cerca de 1.200 pessoas morreram e 240 foram arrastadas para Gaza como reféns, de acordo com a contagem de Israel, no dia mais mortal em seus 75 anos de história.
Desde então, milhares de habitantes de Gaza foram mortos e mais da metade da população está desabrigada por uma campanha militar israelense implacável. Israel ordenou a retirada total dos residentes da metade norte de Gaza. As autoridades médicas de Gaza afirmam que mais de 11.000 pessoas foram confirmadas como mortas, cerca de 40% delas crianças.
As forças terrestres israelenses entraram em Gaza no final de outubro e rapidamente cercaram a cidade, o principal assentamento no norte. Desde então, os combates têm se concentrado em um círculo cada vez mais apertado em torno do hospital Shifa, o maior do enclave, onde milhares de civis buscaram abrigo.
Israel afirma que os combatentes do Hamas têm um quartel-general subterrâneo em túneis sob o hospital e estão deliberadamente usando seus pacientes como escudo, o que o Hamas nega.
“Os tanques estão em frente ao hospital. Estamos sob bloqueio total. É uma área totalmente civil. Apenas instalações hospitalares, pacientes hospitalares, médicos e outros civis internados no hospital. Alguém deveria parar com isso", disse por telefone um cirurgião do hospital, Dr. Ahmed El Mokhallalati.
"Eles bombardearam os tanques (de água), bombardearam os poços de água, bombardearam a bomba de oxigênio também. Bombardearam tudo no hospital. Dizemos a todos que o hospital não é mais um lugar seguro para tratamento."
Israel tem pedido aos civis que saiam e aos médicos que mandem os pacientes para outro local. O país diz que tentou retirar os bebês da ala neonatal e deixou 300 litros de combustível para alimentar geradores de emergência na entrada do hospital, mas as ofertas foram bloqueadas pelo Hamas.
Qidra, porta-voz do Ministério da Saúde de Gaza, disse que os 300 litros abasteceriam o hospital por apenas meia hora. O Shifa precisa de 8.000 a 10.000 litros de combustível por dia, que devem ser entregues pela Cruz Vermelha ou por uma agência de ajuda internacional, disse ele à Reuters.
Uma autoridade israelense que pediu anonimato disse que 300 litros poderiam durar várias horas, pois apenas a sala de emergência estava funcionando, reduzindo a necessidade de combustível do hospital.
O Ministério da Saúde de Gaza disse que dos 45 bebês em incubadoras no Shifa, três haviam morrido até domingo.
O Al Shifa "não está mais funcionando como um hospital", disse o chefe da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, em uma publicação no X.
"Tragicamente, o número de mortes de pacientes aumentou significativamente", disse ele. "O mundo não pode ficar em silêncio enquanto os hospitais, que deveriam ser refúgios seguros, são transformados em cenas de morte, devastação e desespero."
MUNDO POLARIZADO
O conflito, que já dura mais de um mês, tem polarizado o mundo, com muitos países dizendo que mesmo a brutalidade chocante dos ataques do Hamas não justifica uma resposta israelense que matou tantos civis em um território lotado e cercado.
Israel afirma que deve destruir o Hamas, e a culpa pelos danos aos civis recai sobre os combatentes que se escondem intencionalmente entre eles. O país tem rejeitado as exigências de um cessar-fogo, que, segundo ele, apenas prolongaria o sofrimento, dando ao Hamas a chance de se reagrupar, uma posição apoiada por Washington, que, no entanto, diz estar pressionando seu aliado a proteger os civis.
"Os Estados Unidos não querem ver tiroteios em hospitais onde pessoas inocentes, pacientes que estão recebendo cuidados médicos, são pegos no fogo cruzado, e tivemos consultas ativas com as Forças de Defesa de Israel sobre isso", disse o conselheiro de segurança nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, à CBS News.
Acredita-se que centenas de milhares de civis permaneçam na parte norte de Gaza, onde se concentram os combates, apesar da ordem de Israel para que saiam. Israel também bombardeia regularmente o sul, fazendo com que os habitantes de Gaza digam que não têm para onde ir em segurança.
O conflito tem aumentado os temores de uma conflagração mais ampla. O Hezbollah, sediado no Líbano, que, assim como o Hamas, é apoiado pelo Irã, tem realizado ataques com mísseis contra Israel, e outros grupos apoiados pelo Irã no Iraque e na Síria lançaram pelo menos 40 ataques separados com drones e foguetes contra as forças dos EUA.
Os Estados Unidos realizaram dois ataques aéreos na Síria contra grupos alinhados ao Irã no domingo, disse uma autoridade de defesa norte-americana à Reuters, no que parece ser a mais recente resposta aos ataques.