Ataques aéreos israelenses contra blocos residenciais no sul de Gaza mataram pelo menos 47 palestinos neste sábado, dizem médicos, após Israel novamente alertar que civis precisam se realocar, enquanto se prepara para um ataque contra o Hamas na região sul do enclave, após subjugar o norte.
Por Nidal al-Mughrabi e James Mackenzie | Reuters
KHAN YOUNIS, Gaza/JERUSALÉM - Autoridades palestinas acusaram o exército israelense de retirar à força a maioria dos funcionários, pacientes e pessoas deslocadas do maior hospital de Gaza, no norte, e abandoná-los a jornadas perigosas rumo ao sul a pé.
Criança palestina ferida é socorrida no hospital Nasser em Khan Younis, na Faixa de Gaza 18/11/2023 REUTERS/Mohammed Salem |
As forças israelenses, que tomaram o controle do hospital Al Shifa em sua ofensiva no norte de Gaza no início desta semana, alegando que o local escondia um centro de comando subterrâneo do Hamas, negaram a acusação, afirmando que as retiradas foram voluntárias.
Israel prometeu aniquilar o grupo militante Hamas que controla a Faixa de Gaza, após a sua invasão à Israel em 7 de outubro na qual seus soldados mataram 1.200 pessoas e tomaram 240 como reféns para o enclave, de acordo com a contagem israelense.
Desde então, Israel bombardeou grande parte da Cidade de Gaza -- o núcleo urbano do enclave -- às cinzas, ordenou o despovoamento da metade norte da estreita faixa e deslocou cerca de dois terços dos 2,3 milhões de palestinos de Gaza.
Autoridades sanitárias de Gaza aumentaram o total de mortos na sexta-feira para mais de 12 mil pessoas, incluindo 5 mil crianças. A ONU considera que esses números são confiáveis, embora estejam sendo atualizados com pouca frequência, pela dificuldade de coletar informações.
ATAQUES AÉREOS
Uma ofensiva israelense no sul da Faixa de Gaza pode obrigar centenas de milhares de palestinos que fugiram da incursão israelense na Cidade de Gaza, no norte, a se deslocarem novamente, junto com os moradores de Khan Younis, uma cidade com mais de 400 mil habitantes, agravando a grave crise humanitária.
De sexta para sábado, 26 palestinos foram mortos e 23 ficaram feridos por um ataque aéreo contra dois apartamentos em um prédio de vários andares em um movimentado distrito de Khan Younis, segundo autoridades sanitárias.
Alguns quilômetros ao norte, seis palestinos foram mortos quando uma casa foi bombardeada pelo ar, na cidade de Deir Al-Balah, de acordo com autoridades sanitárias.
Um terceiro ataque aéreo israelense na tarde deste sábado matou 15 palestinos em uma casa a oeste de Khan Younis, perto de um abrigo para deslocados, disseram testemunhas e médicos.
Israel diz que o Hamas geralmente esconde combatentes e armas em edifícios residenciais e outros edifícios civis, o que o Hamas nega.
Um comunicado do exército israelense disse apenas que, nas últimas 24 horas, sua força aérea atingiu dezenas de alvos de Gaza, incluindo militantes, centros de comando, bases de lançamento de foguete e fábricas de munições.
Um assessor sênior do primeiro-ministro de Israel pediu na sexta-feira que civis palestinos se afastassem de Khan Younis porque forças israelenses teriam que avançar contra a cidade para retirar soldados do Hamas escondidos em túneis subterrâneos e bunkers - sugerindo que uma ofensiva israelense por terra no sul era iminente.
O pendente avanço israelense no sul de Gaza pode ser mais complicado e letal do que no norte, no entanto, com a população civil inchada por cerca de 400 mil refugiados e possíveis combates mais ferozes com militantes na região de Khan Youni, uma base de poder do líder do Hamas, Yahya Sinwar, de acordo com uma fonte sênior de Israel e duas ex-autoridades de primeiro escalão.
RETIRADAS DO HOSPITAL AL SHIFA
Para alarme internacional, Israel tornou o Al Shifa o foco principal de seu avanço terrestre no norte da Faixa de Gaza.
Suas forças tomaram o controle após relatos de confrontos com combatentes do Hamas do lado de fora e estão vasculhando as instalações e escavando partes dela, alegando ter encontrado evidências de um reduto subterrâneo do Hamas. Funcionários do Al Shifa afirmam que Israel não comprovou tal alegação.
A ministra da Saúde palestina, Mai al-Kaila, disse que todos menos aproximadamente 125 dos estimados 1 mil a 1.500 pacientes feridos na guerra ou doentes, assim como 34 bebês recém-nascidos, cinco médicos e algumas enfermeiras, foram forçados a sair do Al Shifa pelo exército israelense.
O exército israelense negou os relatos palestinos. Em um comunicado, disse que suas forças em Al Shifa concederam um pedido do diretor do hospital para "expandir e auxiliar" em futuras retiradas voluntárias por meio de uma "rota segura". Médicos podem ficar para ajudar os pacientes que estão fracos demais para serem retirados, disse.
Autoridades sanitárias palestinas disseram que as pessoas retiradas do Al Shifa precisarão caminhar em estradas perigosas, bombardeadas, em áreas sob ataques aéreos repetidamente.
Com a guerra entrando em sua sétima semana, não houve sinais de abrandamento, apesar de cobranças da comunidade internacional por "pausas humanitárias".
A agência humanitária da ONU, a Ocha, disse que nenhum auxílio entrou em Gaza pelo terceiro dia seguido na sexta-feira, e as distribuições estão praticamente interrompidas pela falta de garantias de segurança e combustível. Ainda afirmou que esgoto começou a fluir nas ruas em algumas regiões pela falta de combustível para operar a infraestrutura.