Ministros das Relações Exteriores da União Europeia se reúnem em caráter extraordinário nesta terça-feira (10) para discutir os últimos desdobramentos em Israel e na Faixa de Gaza, além de anunciar uma resposta política do bloco ao conflito entre Israel e Hamas, que já soma mais de 1.300 mortos.
Letícia Fonseca-Sourander | RFI
Bruxelas - O chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borell, que se encontra em Mascate, capital de Omã, com vários chanceleres do bloco, se reunirá por videoconferência com o restante dos ministros das relações exteriores da UE e devem anunciar uma posição coordenada do bloco sobre o conflito entre Israel e o Hamas.
Palestinos observam um incêndio entre os escombros de um prédio residencial danificado, após os ataques israelenses, na Cidade de Gaza, em 10 de outubro de 2023. REUTERS - MOHAMMED SALEM |
Após o ataque surpresa do braço armado do Hamas contra o território israelense, o bloco europeu, que é o principal doador aos palestinos, vai rever os pagamentos de ajuda ao desenvolvimento do povo palestino avaliados em quase € 700 milhões. Segundo Borell, “a revisão da ajuda do bloco europeu à Palestina não suspenderá os pagamentos previstos, como anunciou anteriormente a Comissão Europeia. A suspensão dos pagamentos, que puniria todo o povo palestino, prejudicaria os interesses da UE na região e encorajaria mais ainda os terroristas”, afirmou.
A declaração de Borell ajuda a esclarecer a confusão criada por um comissário do executivo europeu que anunciou a suspensão da ajuda financeira para a Palestina, enquanto a Comissão Europeia havia dito que seria uma “revisão urgente e não uma suspensão da assistência da União Europeia à Palestina”. A União Europeia, assim como os EUA e Israel, considera o Hamas um grupo terrorista. Durante o final de semana, a sede da Comissão Europeia, em Bruxelas, foi iluminada com as cores da bandeira israelense, com a presidente do executivo, Ursula von der Leyen, a postar várias vezes mensagens [na rede X] sobre o apoio do bloco à Israel. Alguns membros do Parlamento Europeu e analistas criticaram a medida.
Revisão da ajuda aos palestinos
O anúncio da revisão da ajuda financeira da União Europeia para a Autoridade Palestina abre um debate que tem sido uma preocupação antiga de Israel: o financiamento externo para as causas palestinas. No ano passado, o bloco europeu contribuiu com cerca de €300 milhões para as entidades palestinas e a promessa era doar €1,8 bilhão no período de 2021-2024, sendo que milhões de euros são para ajudar a Autoridade Palestina a pagar os salários de funcionários públicos, financiar projetos, além de ajudar os refugiados através de uma agência das Nações Unidas.
O bloco europeu já enfrentou críticas de Israel sobre o seu financiamento a organizações palestinas. Na segunda-feira, o porta-voz da Comissão Europeia, Eric Maner, disse que “existem controles rigorosos em vigor para garantir que não haja financiamento direto ou indireto ao Hamas”. Mas certamente depois do ataque surpresa contra o território israelense, a inspeção das organizações palestinas irá se intensificar. A União Europeia, que apoia a solução de dois Estados no Oriente Médio, há muito tenta gerir uma série de pontos de vista entre os seus 27 países sobre os conflitos com Israel. A França, os países nórdicos e a Irlanda apoiam tradicionalmente uma posição que é vista por outros países como demasiadamente pró-Palestina.
Impactos do conflito na UE
Várias companhias aéreas europeias suspenderam seus vôos para Tel-Aviv logo após o ataque surpresa do último sábado. A força aérea da Polônia enviou aviões militares de carga para resgatar seus cidadãos. França, Alemanha, Espanha, Itália – além do Reino Unido – reforçaram a segurança em torno das sinagogas e instituições judaicas como medida de precaução. Além do prédio da Comissão Europeia em Bruxelas, a Torre Eiffel em Paris e o Portão de Brandenburgo, em Berlim, também foram iluminados com as cores da bandeira de Israel.
A tensão cresceu após o pronunciamento de representantes políticos do bloco, como a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen. Alguns eurodeputados e ONGs humanitárias criticaram o seu discurso pró-Israel e disseram que, assim, Bruxelas estava dando carta branca a Israel e fechando os olhos para a morte de mais de 200 palestinos na Faixa de Gaza pelas forças israelenses.