Medida afetaria mais de 1 milhão de palestinos, segundo as Nações Unidas; Unrwa teme que níveis de miséria cheguem a valores históricos; Unicef fala de subida de número de crianças mortas a cada hora na Faixa de Gaza.
ONU News
As Nações Unidas lançaram um forte apelo para que as autoridades de Israel anulem a ordem de evacuação para que toda a população deixe a área palestina de Wadi Gaza e se desloque para o sul da Faixa de Gaza.
OMS/Territórios Ocupados da Palestina | Hospital Al-Shifa, em Gaza. A OMS alerta que os hospitais na Faixa de Gaza estão num ponto de ruptura |
A decisão foi informada a representantes da ONU em Gaza por “oficiais do exército de Israel”. Uma nota do porta-voz do secretário-geral, publicada em Nova Iorque, destaca que revogar a medida evitaria que a atual tragédia se tornasse uma “situação calamitosa”.
Continuação dos confrontos
Na quarta-feira, as autoridades israelenses fizeram o anúncio que, segundo a ONU, afetaria mais de 1 milhão de palestinos, incluindo crianças, idosos e doentes.
A situação forçaria um deslocamento “com pouco ou nenhum transporte” quando faltam garantias de segurança com a continuação dos confrontos. Para a ONU, seria “impossível” que o movimento acontecesse sem “consequências humanitárias arrasadoras.”
Sobre a provável situação de deslocamento, a Agência da ONU para Refugiados Palestinos, Unrwa, pediu que seja reforçada a proteção dos civis em toda a Faixa de Gaza.
A entidade pediu às partes com influência sobre os envolvidos no conflito que “acabem com a situação e permitam um acesso humanitário imediato, incondicional e desimpedido aos civis, incluindo várias mulheres e crianças”.
Níveis históricos de miséria
Tendo em conta os fortes bombardeios na aérea superpovoada da Faixa de Gaza, a previsão é que a miséria chegue a níveis históricos e a situação “empurrará ainda mais a população de Gaza para o abismo”, afirmou a agência.
Mais de 423 mil pessoas já foram deslocadas desde 7 de outubro. Destas, mais de 270 mil buscaram abrigo em locais geridos pela Unrwa onde recebem alimentos básicos, medicamentos e apoio.
Para o comissário-geral da Unrwa, Philippe Lazzarini, a dimensão e a velocidade da crise humanitária em curso são assustadoras. Para ele, a Faixa de Gaza está “a tornar-se rapidamente num inferno e está à beira do colapso”.
O alto comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Turk, pediu mais insistência e auxílio aos países junto das partes em conflito para que se implemente imediatamente um corredor humanitário para o acesso seguro e desimpedido da ajuda.
Discursos de ódio antissemitas e islamofóbicos
Outra preocupação é com os atuais esforços para se evitar uma catástrofe. Turk, lamentou que em muitos países ao redor do mundo, proliferem discursos de ódio antissemitas e islamofóbicos na sequência da crise israelo-palestina.
O chefe de Direitos Humanos na ONU pediu uma declaração dos líderes políticos e outros contra o tipo de narrativa e “medidas claras” para conter qualquer defesa do ódio nacional, racial ou religioso que incitem a discriminação, agressões ou violência.
Nesta sexta-feira, o Escritório da ONU para os Assuntos Humanitários, Ocha, pediu urgentemente US$ 294 milhões para que 77 agências humanitárias atuem em favor de 1,26 milhão de pessoas em Gaza e na Cisjordânia.
A meta é evitar que as reservas de artigos essenciais entrem em colapso, uma questão que tem levantado grande preocupação da comunidade humanitária.
Grande número de feridos
O Fundo da ONU para a Infância, Unicef, destaca haver várias centenas de crianças mortas e feridas e que os números aumentam a cada hora em Gaza.
A agência pede o fim da morte de menores destacando casos de “crianças com queimaduras horríveis, ferimentos de morteiro e membros perdidos”.
A agência estima que o grupo seja metade das 1,1 milhões de pessoas afetadas pela ordem de evacuação diante da iminência do “ataque terrestre a um dos locais mais densamente povoados do planeta, mas sem nenhum lugar seguro para os civis.”
A Organização Mundial da Saúde, OMS, apontou a falta de locais seguros para abrigar civis dos ataques aéreos em curso. A agência citou relatos do Ministério da Saúde palestino de que é impossível evacuar pacientes vulneráveis do norte de Gaza.
Nessas instalações, as maiores dificuldades incluem a falta de camas, a superlotação dos locais cirúrgicos e o grande número de feridos em situação de fragilidade.