Um tribunal parisiense validou no sábado (28) a proibição municipal de uma manifestação em Paris em apoio ao povo palestino, alegando “grave risco de perturbações à ordem pública” e rejeitando o recurso de associações. Apesar da decisão, milhares de pessoas saíram às ruas da capital francesa para protestar.
RFI
O juiz rejeitou o recurso de 14 associações e particulares que contestaram a proibição determinada pela Secretaria de Segurança Pública da capital francesa, em nome da liberdade de expressão e da liberdade de reunião.
Parisienses manifestam apoio aos palestinos em protesto na Praça do Châtelet, no centro de Paris, em 28 de outubro de 2023 © Bertrand Guay / AFP |
Em um comunicado, o tribunal argumentou que não suspenderia a ordem que proibia a manifestação, “devido ao contexto de tensões exacerbadas ligadas ao que acontece na Faixa de Gaza, acompanhado de um aumento na França de atos antissemitas”.
De acordo com o despacho do juiz, a ordem não representa uma violação da liberdade de manifestação e expressão, “tendo em conta a realidade e a gravidade dos riscos de perturbação da ordem pública”, e diante da impossibilidade de impor uma medida menos restritiva.
O magistrado alega que a manifestação tinha um risco particularmente alto de violência contra outros grupos ou contra a polícia, além da possibilidade de causar danos materiais, sobretudo porque, ao contrário dos protestos anteriores, que foram permitidos, este passaria pelos bairros do Marais e do Sentier, onde vive uma grande comunidade judaica e estão localizados muitos lugares de culto.
Decisão revoltante
Apesar da proibição, a manifestação saiu, no começo da tarde, da Praça do Châtelet, no centro, em direção à Praça da República, a leste de Paris. Mais de 10.000 pessoas são esperadas.
Organizada pelo coletivo Urgence Palestine, esta manifestação de apoio ao povo palestino foi proibida na quinta-feira (26) pelo chefe da polícia de Paris, Laurent Nuñez, por risco de perturbar a ordem pública.
“Esta é uma decisão revoltante”, disse Vincent Brenghart, um dos advogados das associações organizadoras, alegando que as manifestações anteriores foram pacíficas, contrariando os temores de tumultos.
“No contexto atual, esta proibição é escandalosa”, reagiu Bertrand Heilbronn, presidente da AFPS (Associação de Solidariedade França-Palestina). “A prefeitura procura silenciar a voz do povo francês diante do horror do que está acontecendo”, acrescentou.
Num comunicado, o Novo Partido Anticapitalista (NPA) estimou que as proibições nas províncias expressavam o “escandaloso apoio político do poder de Macron e [do ministro francês do Interior] Gérald Darmanin às políticas do [primeiro-ministro israelense] Benjamin Netanyahu”. “O governo quer proibir manifestações de indignação contra as políticas bélicas do Estado de Israel”, afirma o texto.
A guerra entre Israel e o Hamas, que entrou no seu 22º dia neste sábado, foi desencadeada pelo ataque sem precedentes do movimento islâmico palestino em 7 de outubro em solo israelense a partir da Faixa de Gaza. Em retaliação, o exército israelense tem desde então bombardeado a Faixa de Gaza, controlada pelo Hamas desde 2007.