Segundo os Médicos Sem Fronteiras, duas crianças foram operadas sem morfinas
Manveena Suri | CNN
Os trabalhadores humanitários nos hospitais da Faixa de Gaza não podem usar morfina ou analgésicos para tratar civis, já que o cerco de Israel ao enclave esgota suprimentos médicos essenciais em meio a bombardeios persistentes, conforme disse um funcionário de uma ONG nesta segunda-feira (23).
“O que é extremamente importante são os kits de trauma, os kits de cirurgia”, disse Leo Cans, chefe da missão dos Médicos Sem Fronteiras em Jerusalém.
Os médicos estavam “realizando operações cirúrgicas sem a dose correta de narcóticos, sem a dose correta de morfina”, disse Cans a Max Foster, da CNN.
“Em termos de controle da dor, isso não está acontecendo. Atualmente temos pessoas sendo operadas sem morfina. Aconteceu com duas crianças.”
Temos muitas crianças que infelizmente estão entre os feridos, e eu estava conversando com um de nossos cirurgiões, que ontem atendeu um menino de 10 anos, queimado em 60% da superfície corporal, e ele acabou não tendo analgésicos.
“Não há nenhuma justificativa para impedir que esses medicamentos essenciais cheguem à população”, acrescentou Cans.
Os especialistas da ONU disseram na semana passada que o bloqueio “inexprimivelmente cruel” de Israel a Gaza viola o direito internacional e penal.
Cans também reconheceu as reportagens da CNN sobre pais que tiveram que escrever os nomes dos filhos nos braços e pernas para identificá-los caso as crianças ou eles próprios fossem mortos.
Colegas lhe disseram que as famílias dormiam no mesmo quarto porque “querem viver juntas ou morrer juntas”, disse ele.
Os profissionais de saúde também constataram o impacto que a escassez de combustível tem no funcionamento dos hospitais e no abastecimento de água.
“O combustível é essencial para as estações de tratamento de água para dessalinizarem a água. Se não tivermos combustível, não temos água de qualidade”, disse ele, acrescentando que muitos moradores da Faixa de Gaza agora bebem água não tratada, o que provoca surtos de diarreia.
Ele também pediu o fim do “bombardeio indiscriminado”.
“Até a guerra tem regras e não se pode bombardear civis. Temos muitas crianças, muitas mulheres chegando ao hospital. Não é aceitável.”