Jornalistas em campo negaram quaisquer evidências de bebês decapitados; após difundir rumores, oficiais da ocupação se recusam a confirmar atrocidades
Soraya Misleh | Monitor do Oriente Médio
Jornalistas em campo no território designado Israel negaram quaisquer evidências de bebês decapitados, suposta atrocidade que tomou as manchetes da imprensa tradicional no Brasil e no mundo. Após difundir rumores, oficiais da ocupação se recusaram a confirmá-los.
O repórter israelense Oren Ziv, da rede independente +972 Magazine, comentou na plataforma social X (Twitter): “Estou recebendo muitas perguntas sobre os relatos de ‘bebês decapitados pelo Hamas’ publicados após a imprensa visitar o vilarejo. Durante nossa visita, não vimos qualquer evidência disso; comandantes e o porta-voz do exército tampouco mencionaram tais incidentes”.
Estou recebendo muitas perguntas sobre os relatos de "bebês decapitados pelo Hamas" que foram publicados após a turnê de mídia na aldeia. Durante o passeio, não vimos nenhuma evidência disso, e o porta-voz do exército ou comandantes também não mencionaram nenhum incidente desse tipo. pic.twitter.com/qN4XZmlGAP
— Oren Ziv (@OrenZiv_) October 11, 2023
“Jornalistas puderam falar com centenas de oficiais em campo, sem supervisão da equipe de comunicação do exército. Uma repórter da rede i24 [ligada ao governo israelense] alegou ter ouvido os relatos ‘de soldados’”, acrescentou.
“Lamentavelmente, Israel usará agora tais alegações falsas para intensificar seu bombardeio a Gaza e justificar seus crimes de guerra”, concluiu Ziv.
O movimento de resistência Hamas também contestou as acusações, ao condenar a “difusão de propaganda da ocupação israelense, repleta de mentiras e fabricações, como tentativa de encobrir crimes e massacres realizados 24 horas por dia — dentre os quais, crimes de guerra e genocídio”.
“Os combatentes palestinos estão alvejando postos e bases militares e de segurança de Israel — todos alvos legítimos”.
O Hamas reiterou instruções a seus combatentes para evitar atacar civis, ao apontar para testemunhos televisionados de diversos colonos.
O Hamas lamentou ainda que a mídia corporativa se recuse a reportar os crimes de guerra e lesa-humanidade perpetrados pela ocupação, ao bombardear indiscriminadamente bairros civis, matando 1.050 pessoas, incluindo 260 crianças até então.
Crianças palestinas
Ao menos 260 crianças foram mortas na Faixa de Gaza pela recente operação militar israelense contra o pequeno território costeiro, reportou o Ministério da Saúde local.
A ONG Defesa da Infância Internacional — Palestina (DCIP) confirmou 74 óbitos entre crianças palestinas por ataques diretos a Gaza entre 7 e 10 de outubro.
A ong mantém sua cobertura sobre as baixas e violações contra a infância na Cisjordânia ocupada e na Gaza sitiada, à medida que Israel conduz novos ataques, após grupos da resistência dispararem foguetes e romperem a fronteira nominal no último sábado (7).
Crianças em gaiolas, outra fake news
A palavra decapitação tem sido introduzida em meio a declarações israelenses, dando a entender que crimes desse tipo foram cometidos durante os ataques supresa do Hamas e ajudando a propagar as fakenews.
Da mesma forma, a frase “crianças em gaiolas” é inseria em declarações e entrevistas por autoridades, como a confirmar outra notícia falsa. Esta foi gerada a partir de um vídeo postado e retirado após ser muito reproduzido – nas redes sociais, mostrando crianças em uma gaiola, como sendo de um registro do tratamento dado a crianças pelo Hamas.
Na noite da segunda,-feira ( 9) o ministro das Relações Exteriores de Israel, Eli Cohen, afirmou, em entrevista, que palestinos mantêm crianças enjauladas. A fala sem maiores explicações reforça a fake news do vídeo que, no entanto, já existia antes dos ataques, sem relação com a fonte, em uma conta do Tik Tok que depois foi desativada, conforme identificaram agências de checagem.
O site espanhol Maldita mostrou um segundo vídeo com as mesmas crianças livres, que fora postado pelo mesmo perfil do TikTok que agora não existe mais.
Na estratégia de propagação de fakenews, os vídeos lançados e em seguida retirados da postagem inicial passam a circular e viralizadar, tornando mais difícil a responsabilização e o desmentido.