Explosão repentina matou um jornalista da Reuters e feriu ao menos outros seis
Tamara Qiblawi, Sarah El Sirgany, Gianluca Mezzofiore, Allegra Goodwin e AnneClaire Stapleton | CNN
Os jornalistas que foram atingidos quando as forças israelenses atacaram o Líbano na sexta-feira (13) usavam coletes à prova de balas claramente rotulados como “imprensa”, segundo declarações oficiais e vídeos analisados pela CNN.
A explosão repentina matou um cinegrafista da Reuters e feriu ao menos outros seis.
Jornalistas das organizações internacionais de notícias Al Jazeera, Agence France Presse e Reuters estavam entre as vítimas, de acordo com declarações dos meios de comunicação.
Aproximadamente na mesma hora, por volta das 17 horas no horário local, os militares israelenses disseram ter disparado artilharia contra território libanês depois de uma cerca fronteiriça ter explodido perto do kibutz de Hanita. Os militares israelenses não responderam ao pedido de comentários da CNN.
Hanita fica do outro lado da fronteira da cidade libanesa de Alma Chaab, onde o grupo de jornalistas cobria a troca de tiros, mostra a análise de vídeos feita pela CNN.
Uma transmissão ao vivo da Reuters mostrou fumaça subindo na área, de acordo com a geolocalização da CNN, antes de um estrondo ser ouvido.
No instante seguinte, a lente da câmera fica repentinamente coberta de poeira e uma mulher pode ser ouvida gritando ao fundo.
“Oh Deus. Oh Deus. O que está acontecendo? … Não consigo sentir minhas pernas”, diz a jornalista chorando.
Christina Assi, jornalista da Agence France Presse, pôde ser vista em outro vídeo após o acontecimento deitada no chão com ferimentos nas pernas.
O cinegrafista da Reuters, Issam Abdallah, foi encontrado morto após o ataque. Ele estava operando o sinal ao vivo que registrou o momento, informou a Reuters.
Postagens nas redes sociais mostram que as vítimas estavam claramente identificadas como imprensa. Uma hora antes do ataque, Assi postou um vídeo nos stories do Instagram mostrando todo o grupo usando capacetes e coletes de proteção com a identificação “Imprensa”.
Abdallah postou no Instagram pouco antes de sua morte uma foto sua usando um capacete e um colete de imprensa, fumaça subindo ao longe atrás dele, com sua localização indicada sendo Alma Chaab.
Mais tarde, um vídeo que revelou seu corpo carbonizado mostrava o mesmo local em Alma Chaab, de acordo com a análise de geolocalização da equipe de código aberto da CNN. A poucos metros de distância, um veículo pôde ser visto em chamas.
O local foi geolocalizado pela primeira vez pelo especialista em código aberto Benjamin Pittet, da Geoconfirmed.
Em vídeos verificados pela CNN sobre o impacto do ataque, ao menos dois outros jornalistas são vistos ensanguentados.
Em uma dessas imagens, o jornalista americano Dylan Collins, da AFP, é visto com a cabeça e o pulso envoltos em um curativo ensanguentado, a camisa manchada de sangue e coberta de poeira, recebendo cuidados médicos.
Atrás da gravação, alguém disse: “Deixe esse, salve quem você puder”.
Israel e combatentes armados no Líbano têm realizado troca de tiros na fronteira entre os dois países desde o fim de semana passado, logo em seguida ao ataque surpresa do Hamas, provocando uma espiral de tensões na região.
O Hezbollah, um grupo armado libanês apoiado pelo Irã, disse que disparou contra quatro pontos israelenses diferentes na sexta-feira.
Nenhuma parte assumiu a responsabilidade pela explosão na fronteira perto de Hanita, mas sabe-se que combatentes palestinos no Líbano lançaram ataques contra Israel durante a última semana.
Minutos depois da declaração dos militares israelenses reconhecendo que tinham disparado contra o território libanês, a agência de notícias estatal do Líbano divulgou duas declarações dizendo que Israel tinha disparado vários tiros de artilharia contra Alma Chaab e áreas próximas.
Uma fonte da segurança libanesa afirmou à CNN que um helicóptero Apache também foi visto sobre o local onde os jornalistas foram atacados e que um tanque – que pode ter disparado o projétil – estava no lado israelense da fronteira.
Na sexta-feira, uma equipe da CNN encontrou com Abdallah, o jornalista da Reuters que morreu, em um comício pró-Palestina que estava sendo coberto por jornalistas na cidade fronteiriça de Maroun el-Ras.
Jornalista experiente que cobre conflitos no Médio Oriente há muitos anos, ele parecia estar de bom humor.
Abdallah tinha um vídeo sendo transmitido ao vivo no Instagram que funcionou por horas depois de sua morte.
Sua última postagem na rede social foi uma foto da falecida jornalista palestina Shireen Abu Akleh, que a CNN descobriu ter sido provavelmente morta pelas forças israelenses enquanto cobria um ataque do país na Cisjordânia ocupada no ano passado.
*Ben Wedeman e Charbel Mallo, da CNN, contribuíram para esta reportagem