O Exército israelense confirmou nesta segunda-feira (23) ter entrado por terra "de maneira limitada" na última madrugada na Faixa de Gaza. O objetivo foi procurar os reféns que ainda estão nas mãos do grupo Hamas, desde o início da guerra, no dia 7 de outubro, e "matar militantes armados".
RFI
O almirante Daniel Hagari, porta-voz das forças israelenses, confirmou durante uma coletiva de imprensa que o Hamas ainda detém 222 reféns e que o Exército preparava operações para "impedir que o movimento palestino se beneficiasse da ajuda humanitária."
A Faixa de Gaza recebeu ontem o segundo carregamento de ajuda humanitária desde o início da guerra, em 7 de outubro. Os Estados Unidos anunciaram que o envio de mantimentos, medicamentos e outros produtos, será "contínuo" a partir de agora.
Israel intensificou os ataques no enclave nos últimos dias. Pelo menos 70 pessoas morreram em bombardeios na noite de domingo (22) para segunda, segundo o grupo Hamas.
De acordo com o grupo radical palestino, ainda neste domingo, 17 pessoas morreram em uma casa em Jabalya, no norte do território, e outras 25 em um ataque no centro do enclave. O Ministério da Saúde do Hamas indica que "dez corpos foram retirados dos escombros", após um ataque que destruiu nesta segunda (23) uma casa em Deir el-Balah, no centro.
Nesta segunda-feira, o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, pediu que a ajuda chegue o "mais rapidamente possível" na Faixa de Gaza. Ele disse ser favorável a um cessar-fogo humanitário, assim como o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres.
"Pessoalmente, acho que uma pausa humanitária é necessária para permitir a distribuição da ajuda", declarou. De acordo com ele, o assunto será discutido pelos ministros das Relações Exteriores da UE, reunidos em Luxemburgo. O tema também será abordado na reunião de cúpula da UE em Bruxelas, na quinta (26) e sexta-feira (27).
O ministro tcheco das Relações Exteriores, Jan Lipavsky, disse que o cessar-fogo será um "objetivo difícil de atingir" diante das atuais circunstâncias. "Há uma organização terrorista que controla Gaza, envia foguetes todos os dias e organiza ataques bárbaros contra o território israelense", declarou.
"A questão é saber como esse cessar-fogo poderia ser instaurado: ele deve ser aplicado dos dois lados." Para a chefe da diplomacia alemã, Annalena Baerbock, "é impossível colocar um fim à catástrogfe humana se o terrorismo de Gaza continuar ativo",disse.
100 caminhões por dia
Segundo a ONU, seriam necessários pelo menos 100 caminhões por dia para atender às necessidades de todos os habitantes de Gaza. Os primeiros 20 caminhões de ajuda humanitária passaram neste sábado (21) pelo posto de Rafah, na fronteira com o Egito.
Ao menos 1,4 milhão de palestinos foram deslocados desde o início do conflito e a situação humanitária no território é "catastrófica".
De acordo com autoridades do Hamas, 165 mil residências foram atingidas pelos bombardeios de Israel, ou seja, metade das que existem na Faixa de Gaza, e 20 mil ficaram destruídas ou sem condições de uso.
Ofensiva terrestre
O aumento dos bombardeios israelenses visa preparar a ofensiva terrestre contra a Faixa de Gaza, onde vivem 2,4 milhões de palestinos.
A comunidade internacional teme uma escalada da guerra com a propagação para outros países do Oriente Médio. O governo do Irã alertou que a região é um "barril de pólvora".
Dentro de Gaza, mais de 4.600 pessoas, a maioria civis, morreram nos bombardeios israelenses, segundo o balanço atualizado divulgado neste domingo pelo Ministério da Saúde do Hamas, que controla o território palestino desde 2007. Entre as vítimas estariam cerca de 1.900 crianças.
Os ataques aéreos de Israel destruíram bairros inteiros no enclave. A cidade de Rafah, perto da fronteira com o Egito no sul, foi um dos alvos dos bombardeios.
Em 15 de outubro, Israel exigiu que os civis do norte da Faixa de Gaza seguissem para o sul, em busca de refúgios contra os bombardeios.
Após o ataque do Hamas, Israel prometeu "aniquilar" o movimento islâmico palestino. Mas uma operação terrestre no enclave, repleto de armadilhas e túneis, representa vários riscos para as tropas de Israel, que também enfrentam combatentes do Hamas habituados à batalha na região e que mantêm mais de 200 reféns israelenses e estrangeiros, sequestrados no primeiro dia da ofensiva.
Tensão na fronteira com o Líbano
A tensão também cresceu na fronteira entre o norte de Israel e o sul do Líbano, com ataques recorrentes entre o Exército israelense e o grupo Hezbollah pró-Irã, aliado do Hamas. Os moradores dos dois lados abandonaram suas casas.
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, advertiu que o grupo libanês Hezbollah cometeria o "erro de sua vida" se decidisse entrar em guerra com o país.
"Nós atacaríamos com uma força que não podem sequer imaginar e isto seria devastador para o Estado do Líbano", declarou Netanyahu durante uma visita às tropas no norte do país.
O chefe do Pentágono, Lloyd Austin, afirmou que os Estados Unidos "não hesitarão em atuar" militarmente contra qualquer "organização" ou "país" que caia na tentação de "ampliar" o conflito.
Na Cisjordânia, outro território palestino ocupado, mais de 90 pessoas morreram desde 7 de outubro em ataques do Exército ou de colonos israelenses, segundo o ministério palestino da Saúde.
Com informações da AFP