O ataque surpresa do Hamas, em que dezenas de palestinos se infiltraram no sul de Israel a partir da Faixa de Gaza, representa "uma colossal falha de inteligência", de acordo com a análise de Frank Gardner, correspondente de Segurança da BBC News.
BBC News
"O país possui uma das redes de inteligência mais extensas e sofisticadas do Oriente Médio e tem informantes em grupos militantes não apenas nos territórios palestinos, mas também no Líbano, na Síria e em outros locais", escreve ele.
Um homem tenta apagar um incêndio numa van, enquanto foguetes são lançados da Faixa de Gaza, em Ashkelon, sul de Israel | REUTERS |
Gardner aponta que, no passado, essa rede de inteligência foi capaz de assassinar líderes militantes com ataques precisos de drones ou mesmo com armadilhas em celulares.
"Hoje, no final de um feriado judaico, essa rede parece ter sido apanhada dormindo ao volante."
"O Hamas conseguiu planejar e lançar este ataque cuidadosamente coordenado contra Israel, aparentemente em total sigilo."
Gardner constata que Israel retaliará a ação palestina com força maciça. "Mas os israelenses perguntarão agora por que é que os espiões do país não previram e nem alertaram o país", conclui ele.
Representantes do governo de Israel disseram a Gardner que uma investigação já está em andamento para descobrir como o sistema de inteligência do país não foi capaz de antecipar o ataque coordenado do Hamas.
Segundo o correspondente, "é pouco provável que os homens armados do Hamas que se infiltraram no sul de Israel permaneçam em liberdade por muito tempo".
"Eles serão mortos ou capturados pelas Forças de Defesa de Israel, ou sairão por conta própria do território", antevê ele.
"A situação mais complicada envolve os israelenses supostamente mantidos como reféns pelo Hamas e possivelmente levados para Gaza."
"Israel tem duas opções: montar uma missão especial de resgate ou esperar e negociar."
"Ambas estão repletas de riscos."
'Pesadelo na Faixa de Gaza'
Já Yolande Knell, correspondente da BBC News no Oriente Médio, lembra que muitos israelenses estavam aproveitando o fim de um feriado judeu, o Sucot.
"Em vez disso, aqueles que vivem ou permanecem perto da Faixa de Gaza encontraram-se numa situação de pesadelo, com um ataque surpresa em grande escala de militantes palestinos. Pelo que se sabe até o momento, várias comunidades são mantidas reféns por agentes do Hamas", escreve ela.
A correspondente relata que, em um dos canais de televisão do país, foram veiculadas imagens de israelenses aterrorizados, que imploram pelo envio de soldados para resgatá-los. Alguns dizem que há militantes palestinos em suas casas.
"Muitas das milhares de pessoas que participavam de uma festa ao ar livre no sul de Israel durante a noite estavam escondidas à espera de serem resgatadas", relata Knell.
"Imagens não verificadas parecem mostrar militantes palestinos chegando em veículos, bem como atravessando buracos em cercas com motocicletas."
Evento 'sem precedentes'
Para Jeremy Bowen, editor de Internacional da BBC News, os últimos acontecimentos em Israel não tem precedentes nos mais de 15 anos desde que o Hamas ganhou controle sob a faixa de Gaza.
"Isso acontece depois de meses de violência e tensão crescente entre israelenses e palestinos, embora a maior parte disso tenha se concentrado na Cisjordânia, território que Israel ocupa desde 1967, que se estende entre Jerusalém e a fronteira com a Jordânia", explica ele.
"Há uma grande possibilidade de envio de tropas para Gaza. Esta situação irá evoluir rapidamente e é provável que se agrave. Uma grande questão é o que acontece agora — não apenas nos arredores de Gaza — mas também em Jerusalém e na Cisjordânia, onde há meses se verifica uma violência repetida e cada vez mais profunda entre grupos armados palestinos e as forças de segurança e colonos israelitas."
"Uma situação já volátil será certamente exacerbada por estes acontecimentos recentes. Portanto, penso que neste momento, para israelenses e palestinos, esta é uma manhã totalmente inesperada e altamente preocupante", conclui ele.